terça-feira, 31 de julho de 2012

Sobre sonhos

Por.: Maria Fernanda

Sonhei com você essa noite.

Você tocou minha campainha em uma tarde nublada de domingo. Abri a porta e levei um susto ao ver teu rosto sorridente, tremi dos pés a cabeça. Com a cabeça pendida pr'um lado e a face de quem não vale nada, tu me puxastes para um abraço apertado que, chocada, não correspondi.

- Não vais me convidar para entrar?

Dei passagem. Você se ajeitou na minha cama - que parecia minha, devo dizer - com as pernas cruzadas, costas recostadas em um milhão de travesseiros - que também não pareciam com os meus. Sentei tímida ao teu lado, coração pulsando normalmente. Você sorriu, olhando-me dos pés à cabeça, e soprou um "como você está linda", logo depois que elogiou o tom novo dos meus cabelos, dizendo que assim tinha ficado bem melhor. E então me contou da vida.

Falastes que tinhas encontrado uma nova namorada e que ela te fazia muito bem, mas que tinhas custado a se reerguer e que me odiasses por oito meses. Fiquei vermelha, te transformando em gargalhadas, daquelas. Segurasses meu queixo com a pontinha do dedo, tranquilizando um pouco tudo, e voltasse a contar da menina. Dos lugares que você fora, sempre com uma frase para completar, do tipo "aquela que tu gostavas", ou "aquele que fomos naquele certo dia". Rimos desse passado tão novo, com certa nostalgia. Você contou que tinha parado de escrever, que gostava do novo emprego, que cozinhava pizza de atum toda semana e que o Severino continuava a guardar tua casa, me roubando sorrisos.

Chorastes e eu fiquei boba de sonhar tuas lágrimas. Tão palpável, tão real. E eu te abracei e você soluçou, contando sobre tua família e como a menina nova te ajudava, pois tu tentavas parecer inquebrável perto dela e ela nem imaginava que você era todo mole e remendado do lado de dentro. Disse que sentia saudades de despir os sentimentos e que, desde que eu fora embora, você ainda não tinha feito. Se desmontasses inteirinho, com a cabeça no ombro e a fala mansa e, outra vez, fico boba de lembrar o tom da tua voz depois de tanto tempo que não te escuto. Entre choro e riso, você me declamou outro poema, cheio de flor de pêra, de árvores pequenas, de colibris, de céu azul, de onda beijando a areia, de pneu riscando asfalto. Me beijastes a testa ao terminar e, tão logo terminou o estalar o beijo, você levantou já indo embora.

Sabias o caminho. Te acompanhei quieta e tranquila e sorrindo internamente, por reconhecer estar no meio de um sonho e pela delícia daquilo tudo, pela saudade que senti daquilo tudo. Parastes no vão da porta, me puxastes para um último abraço e sussurrasse em meu ouvido.

- Senti tua falta.

Despertei. E na quietude do quarto escuro, senti tua falta também.

quarta-feira, 25 de julho de 2012

"É preciso se expôr sem medo de dar vexame. É preciso colocar o trabalho na rua. É preciso saber ouvir um não e, depois de secar as lágrimas, seguir batalhando. Arriscar, é o nome do jogo. Muitos perdem, poucos ganham. Mas quem não tentar, não tem ao menos o direito de reclamar."

Martha Medeiros
Ao me deitar estava pensando em ti, eu não sei se é sonho, eu não sei mesmo o que acontece, mas eu te sinto sempre, até enquanto durmo, sinto seu toque, sua voz, seu sorriso. Sinto e vejo tudo, meu misto de sonho e realidade, porque demorou tanto pra chegar? Eu guardei um sonho bom pra ti, essa noite toda, foi perfeita, eu estive com você, da forma mais incrível, toquei seu coração, te dei o meu, e recebi o seu. Ao amanhecer sua imagem continuava nítida em minha mente, meio sonolenta acabei despertando pelo vibrar do celular, e era você. E tem sindo você, e vai continuar sendo você. Por tanto tempo eu quis, e então você chegou.

Caio Fernando Abreu
Tenho uma tendência romântica a imagina coisas.


Rubem Braga
Guardo pra mim as crises de identidade e a vontade de sumir. Não vou dissertar sobre minhas fragilidades e minhas inseguranças. Talvez eu te diga algumas vezes sobre minhas tristeza, mas só pra ganhar um pouquinho mais carinho. Ofereço meu bom humor e minha paciência e você deve saber que esta não é uma oferta muito comum.

Verônica Heiss

quinta-feira, 19 de julho de 2012

...me ame...

"Por favor, não me ame tanto", pensava eu quando ela chamava meu nome, com aqueles olhos sorrindo e o coração audível. Eu a vi se perder no oi, enquanto tentava se esconder atrás de seu cabelo. Mulher forte feito menina, no topo dos seus um metro e setenta e dois, desmanchou-se quando a fiz minha, entregou-se além do que permitiria e ficou, embora eu a tenha mandado embora. Três vezes.

E ela está aqui e eu a mandei embora ainda pouco. Seus bracinhos magrelos apoiando meu pescoço, seus dedos longos e unhas bem feitas - quanto trabalho eu tive para torná-la impecável? - enxugando as lágrimas que descem pelo meu rosto, manchando-lhe a roupa. Ela sussurra palavras doces e tem um silêncio confortador. Eu, daqui debaixo, a vejo com os olhinhos brilhando, de gente que não vai embora. Fecho os meus e imploro:

- Por favor, por favor, por favor... Não me ame tanto.

Ela sorri, beija-me a testa e permanece quieta, as lágrimas querendo lhe fugir dos olhos, o carinho ininterrupto, o sorriso intocável. Me dói um bocado vê-la tão minha, tão entregue. Quis cuidá-la desde que a vi, naquele pub submerso, entre copos e copos de chope. Quando demos um abraço de frio, desenhei seu corpo com meu braço - encaixamos como peças de quebra cabeça que levaram anos para ser montadas.

Vi a lágrima se formar no canto e ela suspirar fundo. Fazia isso sempre que estava prestes a se entregar, ou assim dizia ela, achando que já não tinha se exposto demais. Sentei, ainda com o rosto molhado, e segurei o seu entre as mãos, forçando que me entendesse naquela quietude ensurdecedora. Ela se fez minha outra vez, deu-me as costas - como sempre - para dormir. Ouvi sua respiração impaciente e, primeira vez, pus os braços em torno de seu corpo trêmulo e apagamos assim.

(...)
Era um sábado.

Ela veio linda no alto do seu salto agulha. Jaqueta de couro, unhas vermelhas, maquiagem impecável. Tivemos outra daquelas conversas discutidas, mas ela não se entregou demais. Na verdade, ela não se entregou nadinha.

- Preciso ir. Amo você, mas preciso ir. Há outra pessoa, sei lá, qualquer coisa que te convença. Só não posso mais ficar nesse ir e vir, não quero. É isso, não quero. Por favor, me entenda. Há um bocado de coisa que não encaixa entre eu e você, e cansei de unir os imãs do mesmo lado. Por favor, me deixei ir.

Perdi o chão. Esmurrei a parede, chorei, vi um filme diante de mim.

- Você não pode fazer isso comigo. Não, você não pode ir. Me escolhe. Por favor, eu sei que não devia fazer isso, que não aceito isso, mas, por favor, fica comigo. Eu estou te implorando pra ficar, estou te pedindo. Por favor, fica. Por favor, eu te amo, fica.

Ela chorou. Beijou-me a testa e, com a mão na maçaneta, disse que me amava e sentia muito. Ameacei dizendo que jamais me veria outra vez. Chorando, deu-me as costas e saiu encostando a porta. Fiquei olhando praquela madeira escura, ansiando ouvi-la voltar. Não veio. Sussurrei, tarde demais.

- Por favor, te amo tanto! Por favor, me ame mais...

Palavras e Silêncio.

Encantador esse texto.

das fotos que não bati

Uma conquista no meio da tristeza. Palavras ásperas, ácidas. Voz grave, conforto. Um convite, apenas. Noite fria, fila imensa. Nada certo. Um bar, doses de tequila. Cerveja. Mensagens trocadas. Visitas em meio à madrugada. Garoa. Manhã. Carona. Parada na praia, palavras, calor. Garupa. Abraço quente. Certezas. Um beijo. Eternidades.

Palavras e Silêncio

terça-feira, 17 de julho de 2012

Mas acho que a vida é isso mesmo, um dia é bom e o outro é uma porcaria. Não dá pra ser feliz o tempo todo. Por sinal, desconfio de felicidades instantâneas e constantes. Soa meio falso. Gente de carne e osso é alegre e triste. É inconstante. Porque a vida é montanha-russa. E eu adoro andar nela. Por isso sempre na fila do parque.

Clarissa Corrêa
Não há nada de errado em - de vez em quando - chorar e pedir a Deus que nos coloque no colo.

Paulo Coelho
VOCÊ ME BAGUNÇA E TUMULTUA TUDO EM MIM.


O Teatro Mágico
E nossos olhos transmitiam coisas indizíveis e infinitas, que nossas bocas não podiam falar.
Machado de Assis

sábado, 14 de julho de 2012

ser feliz de um jeito simples...

"Eu carrego comigo uma caixa mágica onde eu guardo meus tesouros mais bonitos. Tudo aquilo que eu aprendi com a vida, tudo o que eu ganhei com o tempo e que vento nenhum leva (...) o pouco é muito pra mim. O simples é tudo que cabe nos meus dias. Eu vivo de muitas saudades. E quem se arrebenta de tanto existir, vive pra esbanjar sorrisos e flashes de eternidade."

Caio

sexta-feira, 13 de julho de 2012

e que não demore.

"E me pergunto se, quem sabe um dia, na hora certa, nosso encontro pode acontecer inteiro."

terça-feira, 3 de julho de 2012

Vou inventar avós que nunca morrem.. e cachorros também. Vou inventar uma verdade sem problemas e um caminho doce pra poder voltar e catar todos os caramelos que tiraram de mim. E mesmo que tudo dê errado, mesmo assim, não tem problema. Eu deito no telhado de uma casa qualquer, olho pro céu e invento uma casa qualquer, olho pro céu e invento uma nuvem que chove sorrisos, bem em cima de mim.

Marcelo Camelo

domingo, 1 de julho de 2012

- E quanto à beleza? Você acha que ele é um componente importante nas relações?
- Eu acho que a beleza das palavras é fundamental. Se você sabe falar no ouvido, no ritmo certo do vento, fazer pausa, criar melodia, você vai se tornar automaticamente bonito. Porque a mulher fecha os olhos para sentir prazer, a voz são os olhos aberto da mulher.

Fabrício Carpinejar
Agora, ao final de nossas andanças, nossos olhos são outros, olhos de velhice, de saudade. 'Toda saudade é uma espécie de velhice'. É por isso que os olhos dos velhos vão se enchendo de ausências. 'Memória fraca', dizem os jovens. Engano: é que a sua alma sabe o que merece ser lembrando. Esquecem-se do que aconteceu ontem, mas se lembram do que aconteceu há muito tempo, como se fosse hoje.

Rubem Alves