sábado, 31 de março de 2012

Pense coisas boas. Faça coisas Bonitas. Diga palavras risonhas. Sorria
 antes do desprezo. Faça circular em sua volta uma porção de sentimentos
 bons para atraí-los de volta a você.

Vanessa Leonardi

quinta-feira, 29 de março de 2012

Não se enganem comigo: se digo sul pode ser norte, chego mais fico ausente, o triste é também o belo, procuro o que não se perde, nem se pode encontrar. Buscar respostas nos livros é esconder-se entre linhas. Não creio no que se enxerga, mas nisso que se disfarça por mais que se tente olhar: assim me tem seduzida. Eis o jogo que eu persigo, meu jeito de ser feliz, o desafio que me embalada: sempre que escrevo "morte" estou falando de vida.


.Lya Luft

quarta-feira, 28 de março de 2012

Amor, não.

Queria poder te encontrar, uns segundos apenas
Ver se o tempo teria conseguido nos vencer,
Eu sinto que nem toda água do mar
Poderia apagar, levar, nossos dias
Nossas alegrias espontâneas
Nossa felicidade que só precisa
De um riso e de um mundo fictício

Sinto sua falta.

Talvez sinta tanta falta que passo
A vida deixando espaços vazios
Na esperança de que você pudesse preenchê-los
Você sabe, eu sou tão boba às vezes
E crio esperanças que serão em vão
Tenho quase certeza, não te verei mais
Não vou nunca mais sentir aquela sensação
De te ver pela primeira vez, a segunda, a vigésima
Não mais, não mais amar com as impossibilidades
Não mais descobrir teus lugares preferidos

Guardo teus poemas escritos da Irlanda,
Embora não saiba o que sou hoje na tua vida,
Quando leio aquelas palavras, posso ainda
Me sentir amada.
Se neva bruscamente em Nova Iorque,
Te imagino na solidão vagarosamente,
E estou de mãos atadas.

Não quero nada,
Não escrevo essas palavras pedindo amor,
Não me declaro criando qualquer expectativa,
pois sei que esse tempo não é mais nosso.
Só escrevo para não esquecer quem você foi
Naqueles dias de dezembro,
Escrevo porque preciso regar o lírio
Que você me fez acreditar ser.
Escrevo não porque te amo,
Mas porque ainda gostaria de amar.

Cáh Morandi

terça-feira, 27 de março de 2012

Se ser adulto é abafar o riso em público, é deixar de falar o que pensa por não ser o momento adequado, é deixar de brigar pelo último pedaço, lamento te decepcionar. Gente grande é muito limitada. Eu cresci, minhas ideias é que ficaram altas.

Renata Fagundes
Quero ler mais livros. Escutar mais músicas. Assistir mais filmes. Quero ter menos preguiça, sentar mais no chão, correr mais pelo parque. Sabe, essas coisas fazem com que eu me sinta livre. Acho ruim a gente ter que se aprisionar. Quero sair de noite, caminhar sem rumo, ficar olhando para o céu. Pode soar bobo, mas isso pra mim é tão importante.

Clarissa Corrêa
"É loucura odiar todas as rosas porque uma te espetou. Entregar todos os teus sonhos porque um deles não realizou, perder a fé em todas as orações porque em uma não foi atendido, desistir de todos os esforços porque um deles fracassou. É.. loucura condenar todas as amizades porque uma te traiu, descrer de todo amor porque um deles te foi infiel. É loucura jogar fora todas as chaces de ser feliz porque uma tentativa não deu certo. Espero que na tua caminhada não cometas estas loucuras. Lembrando que sempre há uma outra chance, uma outra amizade, um outro amor, uma nova força. Para todo fim, um recomeço.

Antnoine de Saint-Exupéry

sábado, 24 de março de 2012

Alguns escrevem pela arte, pela linguagem, pela literatura. Esses, sim, são os bons. Eu só escrevo para fazer afagos. E porque eu tinha de encontrar um jeito de alongar os braços. E estreitar distâncias. E encontrar os pássaros: há muitas distâncias em mim (e uma enorme timidez). Uns escrevem grandes obras. Eu só escrevo bilhetes para escondê-los, com todo cuidado, embaixo das portas.

.Rita Apoena

segunda-feira, 19 de março de 2012

"Mudança... Nós não gostamos dela. Nós a tememos. Mas não conseguimos evitá-la. Ou nos adaptamos e mudamos, ou somos deixados para trás. Dói crescer. Qualquer um que te disser que não, está mentindo. Mas aqui vai a verdade: às vezes... às vezes, quanto mais as coisas mudam, mais elas permanecem as mesmas... E às vezes a mudança é boa... Às vezes a mudança... é tudo".

Grey's Anatomy

sexta-feira, 16 de março de 2012

Não quero uma vida pequena, um amor pequeno, uma alegria
que caiba dentro da bolsa. Eu quero mais que isso. Quero o
que não vejo. Quero o que não entendo. Quero muito e quero
sem fim.


Fernanda Mello

o amor é...

Todo dia o amor é. Uma frase, Uma rima inventada.
Uma língua. Música e poesia. Página colorida perdendo vazios.
Minha dor, minha cara, meu tema e sentido. O reencontro.
Um segundo arranhado acontecendo no tempo.
Qualquer coisa bonita. Qualquer coisa imensa e (in)decente.

Todo dia o amor é (enquanto me desconcentro),
o caminho que me continua,

pra gente...


.Priscila Rôde

quarta-feira, 14 de março de 2012

Ana Jácomo

Conta pra mim de onde a gente se conhece. De onde vem a sensação de que sempre esteve aqui, quando eu sei que não estava. Conta por que nada do que diz sobre você me parece novidade, como se eu estivesse lá, nos lugares que relembra, quando eu sei que não estive. Conta onde nasce essa familiaridade toda com os seus olhos. Onde nasce a facilidade para ouvir a música de cada um dos seus sorrisos. Onde nasce essa compreensão das coisas que revela quando cala. Conta de onde vem a intuição da sua existência tanto tempo antes de nos encontrarmos.

Conta pra mim de onde a gente se conhece. De onde vem o sentimento de que a sua história, absolutamente nova, é como um livro que releio aos poucos e, ao longo das páginas, apenas recordo trechos que esqueci. Conta de onde vem a sensação de que nos conhecemos muito mais do que imaginamos. De que ouvimos muito além do que dizemos. De que as palavras, às vezes, são até desnecessárias. Conta de onde vem essa vontade que parece tão antiga de que os pássaros cantem perto da sua janela quando cada manhã acorda. De onde vem essa prece que repito a cada noite, como se a fizesse desde sempre, para que todo dia seu possa dormir em paz.

Conta pra mim de onde a gente se conhece. De onde vem essa repentina admiração tão perene. De onde vem o sentimento de que nossas almas dialogavam muito antes dos nossos olhos se tocarem. Conta por que tudo o que é precioso no seu mundo me parece que já era também no meu. De onde vem esse bem-querer assim tão fácil, assim tão fluido, assim tão puro. Conta de onde vem essa certeza de que, de alguma maneira, a minha vida e a sua seguirão próximas, como eu sinto que nunca deixaram de estar.

Conta pra mim por que, por mais que a gente viva, o amor nos surpreende tanto toda vez que vem à tona.

Eu precisei percorrer muito caminho para entender que um dos maiores tesouros da vida humana, talvez o mais precioso, é a capacidade essencial de sentir amo e saber expressá-lo. E que boa parte das confusões, das discórdias, das invejas, das doenças, das armadilhas, surge da profunda dor que causa a temporária incapacidade de descobrir onde ele está.

Ana Jácomo
Ana Jácomo


"Desde quando você me ama?"
"Sei lá!"
"Sei lá é mais ou menos quanto?"
"Mais ou menos desde muito antes de eu (re)descobrir que você existia."

sábado, 10 de março de 2012

fresta de cortina

Da ou note. Tanto fazia.
Ali sempre soprava uma brisa tímida, dançando tango com as cortinas.
Noite ou dia. Tanto fazia.
Ele pulava da cama com os pés descalço e se arrastava ao cheiro de vida que, por alguma alguma fresta, fugia.
Era cheiro de riso, de infância, de criança na rua. Era cheiro de estrelas, de noite sem lua, de amor sem pudor.
Cheiro de lágrima contida, cheiro de peito doído, cheiro de preguiça, de sono, de sonho. De morte.
Dia ou noite. Tanto fazia.
As cortinas lhe acariciavam a face e, com as mãos tremidas, ele as punha de lado.
Respirava o som da vida dormida.
Toda noite, todo dia.
Não sabia.
Dali, imaginava as cores.
Um céu amarelo, um sol de café, uma nuvem de estrelas.
Sentia o sorriso inocente, o cheiro da chuva,
Ouvia a bola rolando, o cristal se quebrando, bocas silenciando.
Tudo vindo daquela janela
Que ele, cego, não via.

Blog.: Palavras e silêncio 

quinta-feira, 8 de março de 2012

M de Mulher

Seus Malabarismos Mágicos Manipulam Marionetes.
Meninas, Mães, Madres, Marquesas e Ministras.
Madalenas ou Marias.
Marinas ou Madonas.
Elas, são Manhãs e Madrugadas.
Mártires e Massacradas.
Mas sempre Maravilhosas, essas Moças
Melindrosas.
Mergulham em Mares e Madrepérolas, em
Margaridas e Mistérios.
E são Marinheiras e Magníficas.
Mimam Mascotes.
Multiplicam Memórias e Milhares de
Momentos.
Marcam suas Mudanças.
Momentâneas ou Milenares, Mudas ou
Murmurantes,
Multicoloridas ou Monocromáticas,
Megalomaníacas ou Monocromáticas,
Megalomaníacas ou Modestas,
Musculosas, Maliciosas, Maquiadoras,
Maquinistas,
Manicures, Maiores, Menores, Madrastas,
Madrinhas, Manhosas, Maduras, Molecas,
Melodiosas, Modernas, Magrinhas.
São Músicas, Misturas, Mármore e Minério.
Merecem Mundos e não Migalhas.
Merecem Medalhas.
São Monumentos em Movimento, e essas Milhões de Mulheres Maravilhosas Merecem ressaltar ainda mais sua beleza, à nós Mulheres Mágicas um brinde \o

terça-feira, 6 de março de 2012

era frio.

"não sei dizer se fazia mais frio do lado de 
fora da minha blusa ou dentro do meu
coração. Provavelmente competiam."
""
"... Perdoe a minha precariedade e as minhas tentativas inábeis, desajeitadas, de segurar a maçã no escuro. Me queira bem. Estou te querendo muito bem neste minuto. Tinha vontade que você estivesse aqui e eu pudesse te mostrar muitas coisas, grandes, pequenas, e sem nenhuma importância, algumas. Fique feliz, fique bem feliz, fique bem claro, queira ser feliz. Você é muito linda e eu tento te enviar a minha melhor vibração de axé. Mesmo que a gente se perca, não importa. Que tenha se transformado em passado antes de virar futuro. Mas que seja bom o que vier, pra você, para mim.

Com cuidado, com carinho grande, te abraço forte e te beijo,

P.S.: Te escrevo, enfim, me ocorre agora, porque nem você nem eu somos descartáveis. E amanhã tem sol."

Caio Fernando Abreu

segunda-feira, 5 de março de 2012

'preciso dizer que eu te amo'

Quando a gente conversa
Contando casos, besteiras
Tanta coisa em comum
Deixando escapar segredos
E eu não sei que hora dizer
Me dá um medo, que medo

É que eu preciso dizer que eu te amo
Te ganhar ou perder sem engano
É, eu preciso dizer que eu te amo tanto

E até o tempo passa arrastado
Só pra eu ficar do teu lado
Você me chora dores de outro amor
Se abre e acaba comigo
E nessa novela eu não quero
Ser teu amigo

É que eu preciso dizer que eu te amo
Te ganhar ou perder sem engano
É, eu preciso dizer que eu te amo tanto

Eu já nem sei se eu tô misturando
Eu perco o sono
Lembrando em cada riso teu
Qualquer bandeira...

.Cazuza.
O meu mundo não é como o dos outros, quero demais, exijo demais; há em mim uma sede de infinito, uma angústia constante que eu nem mesma compreendo, pois estou longe de ser uma pessoa; sou antes uma exaltada, com uma alma intensa, violenta, atormentada, uma alma que não se sente bem onde está, que tem saudade... sei lá de quê!

.Florbela Espanca.

'longe de tudo, perto do meu canto'.

Diga o que você quiser, faça o que você quiser. Se achar melhor, minta. Não será pecado. Mas se contar tudo, não se esqueça de dizer que sou feliz aqui. Longe de tudo, perto do meu canto.

Caio Fernando Abreu
o essencial é invisível aos olhos

-Porque o que conta hoje em dia é apenas a aparência e primeiras impressões,
mas, o que realmente interessa, ninguém é capaz de enxergar.

tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas

-Porque eternamente é uma palavra forte! Forte até demais.

.JulianeGarcia
Não há quem não feche os olhos ao comer, não há quem não feche os olhos ao cantar a música favorita, não há quem não feche os olhos ao beijar, não há quem não feche os olhos ao abraçar. Fechamos os olhos para garantir a memória da memória. É ali que a vida entra e perdura, naquela escuridão mínima, no avesso das pálpebras. Concentramo-nos para segurar a dispersão, para segurar a barca ao calor do remo. O rosto é uma estrutura perfeita do silêncio. Os cílios se mexem como pedais da memória. Experimenta-se uma vez mais aquilo que não era possível. Viver é boiar, recorda é nadar. Escrevo na água, no vento da água. O passado sem os olhos fechados é como uma roupa enrugada. Sem corpo. Sem as folhas dos plátanos.

.Fabrício Carpinejar.

quinto andar - tiê

Quando eu olhei pra cima e não te vi, não sabia o que fazer, fui contar praquele estranho que eu gostava de você. Ai, ai, será que foi assim? Que foi o tempo que tirou você de mim? E ele num momento hesitou, mas depois não resistiu, me contou que mil balões voando foi o que ele viu. Pensei: não é possível que eu não tenha reparado. Eu devo estar completamente avoada. Dei quase 5 passos e parei, não podia andar pra trás, mas confesso não cabia enxergar tantos sinais. Alô, eu sei, se chega até aqui, tão no limite não dá mais pra desistir. Amor, porque eu te chamo assim, se com certeza você nem lembra de mim.
Somos todos imortais. Teoricamente imortais, claro. Hipocritamente imortais. Porque nunca consideramos a morte como uma possibilidade cotidiana, feito perder a hora no trabalho ou cortar-se fazendo a barba, por exemplo. Na nossa cabeça, a morte não acontece como pode acontecer de eu discar um número telefônico e, ao invés de alguém atender, dar sinal de ocupado. A morte, fantasticamente, deveria ser precedida de certo ‘clima’, certa ‘preparação’. Certa ‘grandeza’. Deve ser por isso que fico (ficamos todos, acho) tão abalado quando, sem nenhuma preparação, ela acontece de repente. E então o espanto e o desamparo, a incompreensão também, invadem a suposta ordem inabalável do arrumado (e por isso mesmo ‘eterno’) cotidiano. A morte de alguém conhecido e/ou amado estupra essa precária arrumação, essa falsa eternidade. A morte e o amor. Porque o amor, como a morte, também existe – e da mesma forma, dissimulada. Por trás, inaparente. Mas tão poderoso que, da mesma forma que a morte – pois o amor também é uma espécie de morte (a morte da solidão, a morte do ego trancado, indivisível, furiosa e egoisticamente incomunicável) – nos desarma. O acontecer do amor e da morte desmascaram nossa patética fragilidade.

.Caio Fernando Abreu.
Me mande mentalmente coisas boas.
Estou tendo uns dias difíceis - mas nada, nada de grave.

.Caio Fernando Abreu.
Porque esse talvez seja o único remédio quando ameaça doer demais: invente uma boa abobrinha e ria, feito louco, feito idiota, ria até que o que parece trágico perca o sentido e fique tão ridículo que só sobra mesmo a vontade de dar uma boa gargalhada.

Caio Fernando Abreu

domingo, 4 de março de 2012

Andei amando loucamente, como há muito tempo não acontecia. De repente a coisa começou a desacontecer. Bebi, chorei, ouvi Maria Bethânia, fumei demais, tive insônia e excesso de sono, falta de apetite e apetite em excesso, vaguei pelas madrugadas, escrevi poemas (juro). Agora está passando: um band-aid no coração, um sorriso nos lábios - e tudo bem. Ou: que se há de fazer.

Caio F.

sábado, 3 de março de 2012

Quando penso que escapei de minha timidez, há um gesto inesperado que me faz corar e regressar, rendido, para a ausência de lugar. O corpo não é um esconderijo seguro.

.Fabrício Carpinejar.
Sei lá, tem sempre um pôr-do-sol esperando para ser visto, uma árvore, um pássaro, um rio, uma nuvem. Pelo menos sorria, procure sentir amor. Imagine. Invente. Sonhe. Voe. Se a realidade te alimenta com merda, meu irmão, a mente pode te alimentar com flores. Eu não estou fazendo nada de errado. Só estou tentando deixar as coisas um pouco mais bonitas.

.Caio Fernando Abreu.

sexta-feira, 2 de março de 2012

Porque o amor grande é uma insanidade lúcida, nem os melhores amigos entendem, é detratar e se retratar com mais frequência do que se gostaria. Amor é o excesso de responsabilidade, de encargo, confiado a quem nos acompanha. Oferecemos o que não conseguimos alcançar. Sempre seremos menores do que ele, já que é o único que cresce na extinção. Minha mãe costuma dizer que casamos quando encontramos uma solidão maior do que a nossa - só assim saímos da própria solidão. Há gente, sim, que muda de amor para não mudar de opinião, que muda de homem para não mudar sua rotina, que manda onde não vigora poder e dominação. Que culpa o amor por não dar conta dele, que ama já pedindo desculpa por não amar. O amor grande não é um grande amor. Há gente, eu conheço, que desperdiça a chance do amor grande porque há apenas uma chance para amar grande. Muitas chances dentro de uma chance. O resto são disfarces, suturas, apoios. Amor grande seria insuportável duas vezes nesta vida. Ou a gente se apequena para receber esse amor ou permanece se engrandecendo para não aceitá-lo.

.Fabrício Carpinejar.
O mundo fora de minha cabeça tem janelas, telhados, nuvens e aqueles bichos brancos lá embaixo. Sobre eles, não se detenha demasiado, pois correrá o risco de transpassá-los com o olhar ou ver neles o que eles próprios não vêem, e isso seria tão perigoso para ti quanto para mim violar sepulcros seculares, mas, sendo uma borboleta, não será muito difícil evitá-lo: bastará esvoaçar sobre as cabeças, nunca pousar nelas, pois pousando correrás o risco de ser novamente envolvida pelos cabelos e reabsorvida pelos cérebros pantanosos e, se isso for inevitável, por descuido ou aventura, não deverás te torturar demasiado, de nada adiantaria, procura acalmar-te e deslizar pra dentro dos tais cérebros o mais suavemente possível, para não seres triturada pelas arestas dos pensamentos, e tudo é natural, basta não teres medos excessivos. Trata-se apenas de preservar o azul das tuas asas.

.Caio Fernando Abreu.
Quem procura as melhores palavras, ainda não está certo. Devemos procurar o melhor silêncio. O silêncio exato. Não me esqueço o dia em que não fizemos nada, nada mesmo, parados, nos olhando como cúmplices, rindo a esmo, abraçados, olhando a janela com um vinho aberto. O futuro passeava pela janela. Talvez tenha me visto de mãos dadas com ela na velhice ou na infância. Não importa em que tempo estávamos. No nosso idioma, as pequenas gentilezas, como empurrar a cadeira para se sentar ou amarrar os cadarços um do outro, já são suficientes para nunca esquecer os dias.

.Fabrício Carpinejar.

quinta-feira, 1 de março de 2012

Eu vou ficar esperando você numa tarde cinzenta de inverno bem no meio duma praça, então os meus braços não vão ser suficientes para abraçar você e a minha voz vai querer dizer tanta coisa que eu vou ficar calada um tempo enorme só olhando você, sem dizer nada, só olhando, olhando e pensando, meu Deus como você me dói de vez em quando.

Caio Fernando Abreu
Minhas desequilibradas palavras são o luxo de meu silêncio. Escrevo por acrobáticas e aéreas piruetas - escrevo por profundamente querer falar. Embora escrever só esteja me dando a grande medida do silêncio.

.Clarice Lispector
Quando estamos sozinhos, somos pela metade.
Quando somos dois, somos um.
Quando deixamos de ser um dos dois,
não somos nem a metade que começamos a história.

Carpinejar
Pouco ainda sorriem e olham nos olhos (...)
Os olhos buscam signos, avisos, o coração resiste (até quando?)
e o rosto se banha de estrelas dormidas de ontem.

Caio F.
Antes de me pôr a caminho, abro devagar e completamente os braços para depois fechá-los arredondados, tocando suavemente as pontas dos dedos de uma das mãos nas pontas dos dedos da outra. Como se faz para abraçar uma pessoa. Mas não ha nada entre meus braços além do ar da manhã. Suspiro, sorrio, defaço o abraço. Então, com as mãos vazias, finalmente começo a navegar.

.Caio Fernando Abreu.
Demorei a aceitar
uma confiança
que não venha da dor

Uma confiança que parta da alegria
sem a inveja da alegria alheia.
Uma confiança que não tenha

vergonha de desaparecer.
Uma confiança que abençoe
o próprio engano

e não desfaça mal-entendidos.
Uma confiança que não insista
em mostrar senso, prudência.

Um cabra
que salta como um coxo
mas não lhe faltam pernas.

.Fabrício Carpinejar.