segunda-feira, 24 de dezembro de 2012


''Amor para mim é doideira, descontrole, soluço de árvore na estrada. Andar de cadarços desamarrados, levar os ciscos e as ervas para a casa. Arrastar as folhas e o solo. Varrer a rua em direção à casa, em movimento inverso. Sujar a casa de mundo, de premência.
Invejo quem programa seu casamento com antecedência, com dois ou três anos de noivado. Nunca fui assim, de fazer maquete, de brincar de casa de boneca, de planejar cada passo. ...
Invejo quem só casa após segurança financeira. Amor nunca me concedeu segurança.
Invejo quem condiciona o enlace a uma lua-de-mel no exterior.
Que seja na saúde e na doença de cara, na alegria e na tristeza de cara.
Relâmpago não é tão bonito sem chuva. Relâmpago sem chuva pede esmola. Quero a chuva junto do clarão, o marulhar das calhas, a água nas escadas das telhas.
Sou do amor fulminante, como um enfarte. Perder a razão. Casar na hora, em dias, esquecer que não era possível, esquecer as dificuldades, esquecer os entraves e pormenores. Não dar tempo para criar problemas. Não dar tempo para ponderar com opiniões dos próximos. Não aceitar conselhos de ressaca, decidir ébrio e arrepender-se amando. Ultrapassar-se.
Não sei como montei minha casa. Amor junta os pertences, não reclama. Faz funcionar o que não existe. Deixo a demora para Deus, sou mesmo apressado em mim para ser lento no corpo dela.
Invejo quem faz lista de presentes em lojas e recebe metade da casa mobiliada depois da aliança na mão esquerda. A aliança nem conheceu minha mão direita. Mal cumprimentou. Não recebi nada que está em casa, não tive poupança, fundos de investimento. Recebo os amigos. Sobrevivi, pois precisava. Não há desculpa para sobreviver.
Invejo quem premedita o casamento, conhece os pais dela devagarinho, faz as reivindicações antes do contrato, briga por teimosia e capricho pelo tom das paredes e marca dos ladrilhos. Que escolhe a cor do cachorro para combinar com o capacho.
Não consigo.
Caso para quebrar as regras, para me aproximar no ato, para não deixar o inferno dourar a pele. Entro no primeiro apartamento e fico. Os livros já são estantes. Ponho o colchão no chão e subo devagarinho com os meses.
Caso rápido porque nunca fui sozinho dentro de mim, porque a saliva é água potável, porque amor é urgência.
Ajeita-se a vida como pode. Um dia a menos não será depois um dia a mais. Caso em segredo, a dois. Beijo tem muito despudor para ter medo.
Não me exibo, caso. Não faço futuro, caso logo para fazer passado. ''

Carpinejar

domingo, 23 de dezembro de 2012


Minha mãe, pra mim, é sol mesmo quando chove. É chuva, com direito a cheiro de terra molhada do quintal lá de casa, quando tudo fica árido. Silêncio capaz de amansar ruídos que eu não sei como fazer dormir. Voz que me ajuda a acordar esperanças quando elas ficam com preguiça de levantar. Uma presença que sabe acender o meu ânimo quando o breu se esparrama. Primavera para o meu olhar, não importa qual seja a minha estação. Um perfume inigualável. Ela e as coisas todas do mundo dela. Quando chega, traz lembranças minhas que apenas ela reflete e apenas eu consigo ver. Uma espécie de poema que o sentimento lê em voz alta somente para dentro. Minha mãe foi a primeira música que tocou no meu rádio. A primeira paisagem. A primeira pessoa que me falou sobre milagres e, sem palavra alguma, me contou sobre Deus. Uma história de amor. Tanto faz se, às vezes, desconcertado. Tanto faz se, às vezes, atrapalhado pela mistura das coisas que são dela e das coisas que são minhas. Tanto faz se aprendendo a amar junto comigo nesses bancos da escola. Tem vez que a gente demora para resolver alguns exercícios mais complicados, mas a amizade que nos liga e construímos, página a página, sempre nos orienta na busca das respostas. Minha mãe é maciez pra minha alma quando a vida se faz áspera e quando não. Um lugar de conforto, onde eu posso ser. Amor, quando as minhas folhas caem e quando floresço. A mesa sempre posta, até quando sinto fome apenas de lembrar quem sou. Estou convencida de que ninguém me conhece melhor do que ela. Sente a emoção da vez, antes da minha voz. Sente quando omito alguma coisa, por mais sofisticados que sejam os meus disfarces. Sente a atmosfera da minhas palavras, antes que eu consiga ou resolva dizê-las. Conhece mais variações de sorrisos, silêncios e olhares meus e suas respectivas mensagens do que suponho mostrar. Ela não me conhece assim porque é versada em psicologia. Minha mãe é versada em mim, desde quando eu ainda nem era eu direito. Parece ser especialista em previsões climáticas. Chove, quando não lembro do chapéu e ela diz pra eu não esquecer. Faz um frio absurdo, de repente, quando não levo o casaco e ela diz pra eu levar. Geralmente costuma doer quando alerta que vou me machucar e eu não ligo. Ah, sim, um bocado de vezes também exagera, erra na medida, lê seu oráculo de cabeça pra baixo e com lente de aumento, seja lá por falha intuitiva ou conveniência de seus receios maternos. Mas a verdade é que mãe parece mesmo ter um olhar diferente. Capaz de ver coisas que quaisquer outros olhos do mundo não sabem enxergar. Nem os nossos. Minha mãe cantou para me fazer adormecer. Ensinou-me, com toda a paciência, a rezar para o meu anjo da guarda antes de eu dormir e de levantar da cama. Ensinou-me a respeitar o espaço das pessoas, a ser educada com gente de toda idade, a ser cuidadosa com as plantas e os bichos, a não me apropriar de nada que não me pertencesse. De mãos dadas, seguíamos pelas ruas e seguir de mãos dadas com ela pelas ruas era uma espécie de festa que acontecia toda manhã. Encapava meus cadernos. Perguntava o que havia acontecido na escola quando percebia que eu havia chorado, mas não contava para ela. De vez em quando, me surpreendia com meus lanches preferidos enquanto eu assistia "Sessão da Tarde": bolo "Ana Maria", mingau de cremogema, bolinhos de chuva. Minha mãe costumava cantarolar, lá na cozinha, enquanto preparava o almoço. Nunca soube se era também por isso que a comida ficava tão gostosa e tinha um cheiro que eu não encontro em nenhum outro lugar. Costurava até altas horas da noite, fazia tricô, jogos de ráfia, enxoval para bebê, para ajudar o meu pai com as despesas, eu ficava por perto, ouvindo música, escrevendo meus versos. No início da adolescência, desconcertada, me falou, do jeito dela, sobre novidades que não sabia como me explicar. E quando eu sentia cólicas terríveis, lá estava ela, com seu chá de erva-cidreira e as toalhinhas quentes que passava a ferro para pôr sobre a minha barriga. Às vezes é preciso que o mundo dê algumas voltas e a gente amadureça um pouco para ser capaz de leituras mais amorosas sobre um bocado de coisas. Leituras com braços e coração mais abertos. Nos meus tempos de conga azul, cadernos com decalque, canetinhas silvapen, merendeira com lanche Mirabel, lá pelos sete anos de idade, no início daquilo que chamavam de “primário”, eu escrevia frases curtas que me pareciam enormes, recém-alfabetizada que era. Vocabulário restrito, para falar sobre a minha mãe, escrevi várias vezes tudo o que eu podia: “Minha mãe é bonita”. Atualmente, tenho muito mais do que sete anos e, ao longo das décadas, aprendi a escrever frases mais elaboradas, mas esta continua sendo perfeita. Para os meus olhos, as belezas que ela tem são ainda maiores, bem maiores, agora, olhando daqui!

Ana Jácomo

Nada em mim foi covarde,
nem mesmo as desistências:
desistir, ainda que não pareça,
foi meu grande gesto de coragem.

Cáh Morandi

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012


"É assim que me sinto: amanhecendo.
 Ser feliz é uma obrigação."




Caio Fernando Abreu.
'Pactos. Acho que é isso. Não de sangue nem de nada que se possa ver e tocar.
É um pacto silencioso que tem a força de manter as coisas enraizadas,
um pacto de eternidade, mesmo que o destino um dia
venha a dividir o caminho dos dois.'


[Martha Medeiros]
"A saudade é um filme sem cor, que meu coração quer ver colorido...

(...) A saudade é uma colcha velha que cobriu um dia numa noite fria nosso amor em brasa..."



Zeca Baleiro

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012



"E os amigos são, sim, para trocar abismos — então me escreva 10, 100 páginas, e eu responderei com calor, com carinho, com toda amizade que realmente sinto por você."



Caio F.

sábado, 8 de dezembro de 2012


'Pinto a realidade com alguns sonhos, e transformo alguns sonhos em cenas reais.
Choro lágrimas de rir e quando choro pra valer não derramo uma lágrima.
Amo mais do que posso e, por medo, sempre menos do que sou capaz.'


[Martha Medeiros]

O amor não acaba. O amor apenas sai do centro das nossas atenções. O tempo desenvolve nossas defesas, nos oferece outras possibilidades e a gente avança porque é da natureza humana avançar. Não é o sentimento que se esgota, somos nós que ficamos esgotados de sofrer, ou esgotados de esperar, ou esgotados da mesmice. Paixão termina, amor não. Amor é aquilo que a gente deixa ocupar todos os nossos espaços, enquanto for bem-vindo, e que transferimos para o quartinho dos fundos quando não funciona mais, mas que nunca expulsamos definitivamente de casa.

(Martha Medeiros)
No fundo, há só uma verdade: me sinto só. 
Talvez seja essa a causa dos meus males. 
Ou será o desconhecimento do que sou, (...) 
O que sei é que as coisas que preocupam 
podem ser resumidas em poucas palavras: 
Deus, solidão. E no fundo, o que existe sou eu. 
Como um grande ponto de interrogação sem resposta.'


(Caio F. Abreu - Limite branco)
'Podia ser só amizade, paixão, carinho, admiração, respeito, ternura, tesão. Com tantos sentimentos arrumados cuidadosamente na prateleira de cima, tinha de ser justo amor, meu Deus?'

Caio F.
"O aperto? É excesso de bem querer."


(Jaya)


"Porque eu só preciso de pés livres, de mãos dadas, e de olhos bem abertos"


(Guimarães Rosa)

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Sereno é quem tem a paz de estar em par com Deus.

Los Hermanos
Guardo o meu amor por dentro. É precioso. Pensar nele faz com que eu tenha vontade de cuidar de mim mesmo, então é bom. Guardo, guardando, feito jóia. Precioso, delicado. As coisas vão dar certo. Vai ter amor, vai ter fé, vai ter paz - se não tiver, a gente inventa.

William Shakespeare
É preciso diminuir o barulho. Diminuir as longas distância. Se aconchegar. Deixar passar quem não vale a pena e também quem acha que a gente não vale. É preciso ter tempo para os pequenos detalhes valiosos. Não atropelar as dificuldades, vencê-las. Todo crescimento também precisa delas. É necessário que se dê valor pra quem tá do seu lado, pra quem você descobre que tá do seu lado nos apesares. Tem gente que mostra um pouco do quanto somos importantes nos apesares. Essa é a magia da vida. É de apressada necessidade que saibamos reconhecer.

T.
Quando você sente saudade demais de uma pessoa, então começa a vê-la nas outras, em todos os lugares, de costas, por um jeito de andar, de sorrir ou virar a cabeça de lado.

Caio F.
Experimente coisas novas. Troque novamente. Mude, de novo. Experimente outra vez. Você certamente conhecerá coisas melhores e coisas piores do que as já conhecidas, mas não é isso o que importa. O mais importante é a mudança, o movimento, o dinamismo, a energia. Só o que está morto não muda.

Clarice Lispector
Mais amor ao falar. Mais paciência ao ouvir. Mais cautela ao lidar. Mais roupa bonita no closet. Mais amigos de verdade. Mais sorrisos de verdade. Mais amores de verdade. Mais verdade. E só.

Clarissa Corrêa
Tem coisas que Deus dá para a gente aprender.
E tem coisas que Deus só dá quando a gente aprende.

Tati Bernardi.

terça-feira, 4 de dezembro de 2012


'Cadê a tampa da minha panela, o chinelo do meu pé cansado, a metade da minha laranja?
Tá em ebulição, vazando, transbordando, e nada da tampa da panela pra socorrer a lambança. É culpa da pressão que eu ponho em tudo isso? É o que dizem: desencana que uma hora ele aparece. 
O pé cansado já tentou calçar (à força) do chinelão que descola as tiras ao sapatinho de cristal. Nenhum serviu e o coitado tá todo esfolado. 
Ninguém pra descascar, chupar ou fazer uma laranjada. Em compensação, laranjas na minha vida não faltam. E chega! Há anos peço o príncipe e só me mandam o cavalo. 
Fim de ano sem amar é deprê, hein? Tô megera o suficiente pra ver uma família feliz no shopping e pensar que aquela instituição "image bank" não passa de uma união solitária de aparências. Tô megera o suficiente pra furar a fila do Papai Noel e pedir um pirulito, bem grande, bem grosso, bem exclusivamente apaixonado por mim. 
Tô megera o suficiente pra abraçar os veadinhos do trenó em homenagem aos meus ex-casos. Tô megamegera o suficiente pra não admitir minha carência e dar uma risada debochada de todas as luzes, canções e emoções de boas-festas. 
Tá, mas no especial do Roberto Carlos não vai dar pra ser megera. O filho da mãe sempre me faz chorar. É impressionante como a gente se sente sozinha na porra do especial do Roberto Carlos. 
É claro que eu desejo o meu sucesso profissional, dinheiro, saúde, ..., mas nada de atacar para todos os lados nas simpatias deste réveillon. Não dá certo. Este ano vou focar no amor: calcinha vermelha, fitinhas vermelhas e as sete ondas vão ser puladas com a mão no coração (se eu usar a frente-única branca que comprei, é bom que a mão no coração já segura um peito) e uma só intenção: encontrar o danado.
Ah, sejamos sinceras mulheres modernas: no fundo, no fundo, a gente quer mesmo é alguém pra dormir protegida no peito (de preferência largo, forte e levemente cabeludo). 
E nem é medo de ficar pra titia não, além de ter cara de mais nova e ser bem 
nova, eu sou filha única. É vontade de sentir aquela coisinha misteriosa de "é esse!". Como será sentir isso? Eu sempre sinto que "pode ser esse, ou talvez com algumas mudancinhas possa ser esse ou talvez se ele quisesse, poderia ser esse...". Não, isso tá errado. Quero sentir que "é esse". 
Dizem que materializar os sonhos escrevendo ajuda, então lá vai: quero transar com beijo na boca profundo, olhos nos olhos, eu te amo e muita sacanagem, quero cineminha com encosto de ombro cheiroso, casar de branco, ser carregada no colo, filhos, casinha no campo com cerquinha branca, cachorro e caseiro bacana. Quero ouvir Chet Baker numa noite chuvosa e ter de um lado um livrinho na cabeceira da cama e do outro o homem que amo. 
Quero sambão com churrasco e as famílias reunidas. Quero ter certeza, ali no fundo da alma dele, de que ele me ama. Quero que ele saia correndo quando meu peito amargurado precisar de riso. Que ele esqueça, de vez em quando, seu lado egoísta, e lembre do meu. Que a gente brigue de ciúmes, porque ciúmes faz parte da paixão, e que faça as pazes rapidamente, porque paz faz parte 
do amor. Quero ser lembrada em horários malucos, todos os horários, pra sempre. Quero ser criança, mulher, homem, et, megera, maluca e, ainda assim, olhada com total reconhecimento de território. Quero sexo na escada e alguns hematomas e depois descanso numa cama nossa e pura. Quero foto brega 
na sala, com duas crianças enfeitando nossa moldura.
Quero o sobrenome dele, o suor dele, a alma dele, o dinheiro dele (brincadeira...). Que ele me ame como a minha mãe, que seja mais forte que o meu pai, que seja a família que escolhi pra sempre. Quero que ele passe a mão na minha cabeça quando eu for 
sincera em minhas desculpas e que ele me ignore quando eu tentar enrolá-lo em minhas maldades.
Quero que ele me torne uma pessoa melhor, que faça sexo como ninguém, que invente novas posições, que me faça comer peixe apimentado sem medo, respeite meus enjôos de sensibilidade, minhas esquisitices depressivas e morra de rir com meu senso de humor arrogante. Que seja lindo 
de uma beleza que me encha de tesão e que tenha um beijo que não desgaste com a rotina. Que a sua remela seja sequinha e não gosmenta e que o tempo leve um pouco de seu cabelo (adoro carecas...). Que suas escatologias não passem de piada e se materializem bem longe de mim. Tem que gostar de crianças, de cachorrinhos, da minha mãe, e tem que odiar ver pessoas 
procurando comida no lixo. Tem que dançar charmoso, ser irônico, ser calmo porém macho (ou seja, não explodir por nada mas também não calar por tudo). Tem que ser meio artista, mas também ter que saber cuidar dos meus problemas burocráticos. Tem que amar tudo o que eu escrevo e me olhar com aquela cara 
de "essa mulher é única".
É mais ou menos isso. Achou muito? Claro que não precisa ser exatamente assim, tintim por tintim. Exigir demais pode fazer eu acabar sozinha em mais shows do Roberto Carlos. Deus me livre! Bom, analisando aqui, dá pra tirar umas coisinhas. Deixa eu ver... Resumindo então: tem que dizer que me ama e me amar mesmo, tem que rolar umas sacanagens e não pode ter remela 
gosmenta. Pronto! 
E quando eu tiver tudo isso e uma menina boba e invejosa me olhar e pensar que "aquela instituição feliz não passa de uma união solitária de aparências" vou ter pena desse coração solitário que ainda não encontrou o verdadeiro amor.'

Tati Bernardi


"O amor nunca morre de morte natural. Añais Nin estava certa. 
Morre porque o matamos ou o deixamos morrer. 
Morre envenenado pela angústia. Morre enforcado pelo abraço. Morre esfaqueado pelas costas. Morre eletrocutado pela sinceridade. Morre atropelado pela grosseria. Morre sufocado pela desavença. 
Mortes patéticas, cruéis, sem obituário e missa de sétimo dia. 
Mortes sem sangramento. Lavadas. Com os ossos e as lembranças deslocados. 
O amor não morre de velhice, em paz com a cama e com a fortuna dos dedos. 
Morre com um beijo dado sem ênfase. Um dia morno. Uma indiferença. Uma conversa surda. Morre porque queremos que morra. Decidimos que ele está morto. Facilitamos seu estremecimento. 
amor não poderia morrer, ele não tem fim. Nós que criamos a despedida por não suportar sua longevidade. Por invejar que ele seja maior do que a nossa vida.
fim do amor não será suicídio. O amor é sempre homicídio. A boca estará estranhamente carregada. 
Repassei os olhos pelos meus namoros e casamentos. Permiti que o amor morresse. Eu o vi indo para o mar de noite e não socorri. Eu vi que ele poderia escorregar dos andares da memória e não apressei o corrimão. Não avisei o amor no primeiro sinal de fraqueza. No primeiro acidente. Aceitei que desmoronasse, não levantei as ruínas sobre o passado. Fui orgulhoso e não me arrependi. Meu orgulho não salvou ninguém. O orgulho não salva, o orgulho coleciona mortos. 
No mínimo, merecia ser incriminado por omissão. 
Mas talvez eu tenha matado meus amores. Seja um serial killer. Perigoso, silencioso, como todos os amantes, com aparência inofensiva de balconista. Fiz da dor uma alegria quando não restava alegria. 
Mato; não confesso e repito os rituais. Escondo o corpo dela em meu próprio corpo. Durmo suando frio e disfarço que foi um pesadelo. Desfaço as pistas e suspeitas assim que termino o relacionamento. Queimo o que fui. E recomeço, com a certeza de que não houve testemunhas. 
Mato porque não tolero o contraponto. A divergência. Mato porque ela conheceu meu lado escuro e estou envergonhado. Mato e mudo de personalidade, ao invés de conviver com minhas personalidades inacabadas e falhas. 
Mato porque aguardava o elogio e recebia de volta a verdade. 
amor é perigoso para quem não resolveu seus problemas. O amor delata, o amor incomoda, o amor ofende, fala as coisas mais extraordinárias sem recuar. O amor é a boca suja. O amor repetirá na cozinha o que foi contado em segredo no quarto. O amor vai abrir o assoalho, o porão proibido, fazer faxina em sua casa. Colocar fora o que precisava, reintegrar ao armário o que temia rever. 
amor é sempre assassinado. Para confiarmos a nossa vida para outra pessoa, devemos saber o que fizemos antes com ela.

Carpinejar  
"Cuidado com as ilusões, mocinha, profundas e enganosas feito o mar..."

"Sorriu. Como se nada do que eu pudesse dizer fosse capaz de modificar sua partida."

'— Não fica assim (...) não é o único circo do mundo. Ano que vem chega outro e daí tu foge com ele. Pode ser até que dessa vez eu tome coragem e vá junto contigo.'


"...e foi assim. desde a hora que abriu os olhos.
teve certeza: hoje, seria um dia mágico."

Caio F

sábado, 1 de dezembro de 2012

Amor, com maiúscula


Eu decorei suas fraquezas, acalmei seus pesadelos.
Conheço histórias de sua infância, dores e repulsas.
Sou sua caixa-preta, sua cópia de segurança, seu diário, seu esconderijo na parede.
Poderia imitar sua caligrafia, poderia escrever sua biografia, listar o material escolar da 5ª série, recordá-la da capa de bichinhos coloridos da cartilha Alegria de Saber.
Você não escondeu nenhuma resposta de minhas perguntas. Nenhuma gaveta para a minha curiosidade.
Nunca se revelou tanto para outra pessoa. Expôs quem odiava no Ensino Médio, quem amava, quais as gafes e as covardias que experimentou na escola.
Confidenciou aquilo que seu pai gritou e que magoou fundo, aquilo que sua mãe omitiu e feriu fundo.
Não tem anticorpos contra mim. Baixou as armas, depôs a mínima resistência.
Se você me escolheu para confiar, devo ter o dobro de tato para falar contigo, o triplo de responsabilidade. Qualquer um conta com o direito de falhar, qualquer um desfruta da possibilidade de errar, menos eu. Sou o que realmente estudou seus pontos fracos e o lugar de suas veias.
Perdi a desculpa do acidente, a vantagem do lapso.
Sou o mais perigoso, portanto tenho a obrigação de defendê-la de mim. Tudo o que ouvi a seu respeito não posso empregar para agredi-la. Cada desabafo que me confiou não serve para nada, a não ser para amá-la.
Não tem finalidade doméstica, nem serventia para fofoca, é uma amnésia alegre: escuto, sorrio e consolo.
Não ouso soprar verdades sem sua permissão. São arquivos protegidos.
Quem ama mergulha em hipnose regressiva, firmamos um código de quietude e cumplicidade, de zelo e compromisso.
Intimidade é um conteúdo perigoso, tóxico, explosivo. Há os casais que esquecem que estão levando a valiosa carga e transformam a catarse em tortura psicológica, em chantagem emocional, em sequestro moral.
Suas confidências morrem comigo ou eu vou morrer nelas. Não podem retornar numa briga. Que eu morda a língua, queime a boca, mas não use jamais seus segredos. Aquilo que você me disse não é para ser devolvido. Todo segredo é um sino sem pêndulo.
Não importa o que faça ou as razões da raiva, é covardia distorcer suas lembranças.
Não posso rifar seus problemas, nem propor leilão dos seus medos.
Minha namorada, minha noiva, minha mulher, meu amor.
Eu prometo cercar seu silêncio com meu silêncio.
Não nasci para julgá-la, mas para me julgar e, assim, merecê-la.

Fabrício Carpinejar - Texto: Carta para minha namorada

Enquanto na janela espero a chuva que não quer cair
O vento traz o riso seu que sempre me fazia rir
E o mundo vai dar voltas sobre voltas ao redor de si
Até toda memória dessa nossa história se extinguir
E você nunca vai saber de nada do que eu senti
Sozinho no meu quarto de dormir

Marcelo Jeneci - Quarto de dormir

Quero as janelas abrir para que o sol possa vir iluminar nosso amor...


(Título: Janelas abertas, Tom Jobim e Vinícius de Moraes)

O amor seria somente mais uma palavra. Uma palavra como outra qualquer: cadeira, livros, horizonte ou paralelepípedo. Uma palavra perdida em um dicionário. Uma palavra imprecisa em uma canção. Uma palavra escrita numa placa no deserto. O amor poderia ser o deserto ou a canção, porque às vezes, nos dá uma espécie de sede, em outras, um carinho ao pé do ouvido.
Quem sabe o amor passasse despercebido, em silêncio, tão em calmaria que nem distraísse minha atenção das outras coisas bobas do mundo. Quem sabe o amor chegaria, como chegam correspondências de promoções, que a gente amassa e joga fora. Quem sabe o amor viesse como uma rosa entre as outras rosas em buquê, e olhando de cima, é tudo tão igual. Quem sabe fosse uma rua desconhecida, um creme para as mãos, um jeito de sorrir ou olhar, uma mania, um prato árabe, uma pizza, um peixe que vive só no Mar Egeu, uma marca de xampu ou de relógio, um sabor de suco, uma fruta. Embora para tudo, seja todo o sentido.
Poderia sim ser quase nada, se não tivesse sido tudo. Poderia não ter significância ou significado, senão fosse você. Senão fosse seu riso me chamando para dançar no meio do mundo, senão fosse seu nome se espalhar por todos os cantos dos meus pensamentos e os poros da minha pele, senão fosse o seu olhar na primeira vez que te vi, senão fosse seu ar de segurança, senão fosse sua simplicidade em falar. Se por um momento só, você não tivesse sido tão profundo. Se por um momento só, não tivesse sido você, teria sido tudo inútil, teria sido tão em vão.
O amor vem depois de você, e as palavras vem depois do amor. Tão clichê, tão bobo, quando a gente quer dizer que está apaixonada e sente tão amada a ponto de esquecer o resto do mundo. Tão tola nossa forma mais planejada para não ser amarrada pela paixão. Não vale nada toda razão quando o coração desperta.
O amor seria sim como qualquer palavra... se não fosse sua chegada.


Cáh Morandi

O telefone tocou, na mente fantasia...


(Título: Tarde Vazia, Scandurra & Gaspa)


Muitas vezes a gente não sabe porque o telefone não toca. Pensamos que entendemos errado ou que a hora era outra, ou até mesmo que passamos o número errado, mas na maioria das vezes o telefone só não toca porque não podemos entender o que se passa do outro lado da linha.

Incompreensível, não é? Justamente por isso.

Uma ligação pode mudar tudo no meio da monotonia ou pode ser uma calmaria enquanto esperávamos um furacão. Não dá para prever o que irá acontecer se atendemos no primeiro, no segundo ou no terceiro toque, pois em um só segundo podemos mudar de idéia, de humor, de planos e o segundo errado na ligação certa pode mudar todo o destino.

De qualquer forma, não fique ocupado demais, nem de menos, nem tire seu número das listas telefônicas, e se for ligar não coloque número oculto.

Te ligo, se quiser não atenda, mas deixe tocar.


Cáh Morandi

sexta-feira, 30 de novembro de 2012


Desejo que haja cumplicidade. Que o entendimento aconteça no olhar. Que as palavras sejam estilingues e não pedras. Desejo que haja tolerância e muita paciência. Que os defeitos de um, não machuquem o outro. Que as qualidades de um, não ofusquem o outro. Desejo que o tempo seja generoso. Que os dias passem em paz. Que as noites sejam de festa. Desejo que a rotina não seja cruel. Que a paixão seja sempre descoberta. Que o abraço seja sempre conforto. Desejo que as vontades caminhem de mãos dadas. Que as diferenças e distâncias só sirvam para aproximar. E que a fé no amor, seja salvação para todos os dias.

.Briza Mulatinho.

jamais.




Não sei receber elogios, fico sem saber o que fazer, me atrapalho e acabo trocando de assunto - quando não troco as pernas e tropeço em algum canto de mim. Sorrio para disfarçar desconfortos.

.Clarissa Corrêa
Seja feita a vossa vontade, senhor. Porque Tu conheces a fraqueza do coração dos Teus filhos, e só entregas a cada um o fardo que pode carregar. Que Tu entendas meu amor - porque ele é a única coisa que tenho de realmente meu, a única coisa que poderei carregar para a outra vida. Faz com que ele se conserve corajoso e puro, capaz de continuar vivo, apesar dos abismos e das armadilhas do mundo.

Paulo Coelho
As pessoas não se apaixonam muito hoje em dia. Elas preferem estudar, ganhar dinheiro e viver outras experiências. Faça uma enquete rápida e concluirá que quase ninguém crê no amor. Quando mais você sabe da vida, menos você se apaixona. A paixão nasce da ignorância: quanto menos sei sobre você, e mais eu quero saber, mais vulnerável eu fico. Só que atualmente ninguém mais quer saber de ninguém, além de si mesmo. Todos uns cínicos.

Gabito Nunes

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Adeus, meu amor, logo nos desconheceremos. Mudaremos os cabelos, amansaremos as feições, apagarei seus gostos e suas músicas. Vamos envelhecer pelas mãos. Não andarei segurando os bolsos de trás de suas calças. Tropeçarei sozinho em meus suspiros, procurando me equilibrar perto das paredes. Esquecerei suas taras, suas vontades, os segredos de família. Riscarei o nosso trajeto do mapa. Farei amizade com seus inimigos. Sua bolsa não se derramará sobre a cadeira. Não poderei me gabar da rapidez pelos aniversários de meus pais, já que sempre me avisava. O mar cobrirá o desenho das quadras no inverno. As pombas sentirão mais fome nas praças. Perderei a sequência de sua manhã - você colocava os brincos por último. Meus dias serão mais curtos sem seus ouvidos. Não acharei minha esperança nas gavetas das meias. Seus dentes estarão mais colados, mais trincados, menos soltos pela língua. Ficarei com raiva de seu conformismo. Perderei o tempo de sua risada. A dor será uma amizade fiel e estranha. Não perceberei seus quilos a mais, seus quilos a menos, sua vontade de nadar na cama ao se espreguiçar. Vou cumprimentá-la com as sobrancelhas e não terei apetite para dizer coisa alguma. Não olharei para trás, para não prometer a volta. Não olharei para os lados, para não ameaçá-la com a dúvida. Adeus, meu amor, a vida não nos pretende eternos. Haverás a sensação de residir numa cidade extinta, de cuidar dos escombros para levantar a nova casa. Adeus, meu amor. Não faremos mais briga em supermercado, nem festa ao comprar um livro. Não puxaremos assunto com os garçons. Não receberemos elogios de estranhos sobre nossas afinidades. Não tocaremos os pés na madruga. Não tocaremos os braços nos filmes. Não trocaremos de lado ao acordar. Nunca descobriremos ao certo o que nos impediu, quem desistiu primeiro, quem não teve paciência de compreender. Só os ossos têm paciência, meu amor, não a carne, com ânsias de se completar. ão encontrará vestígios de minha passagem no futuro. Abandonará de repente meu telefone. Na primeira recaída, procurará o número na agenda. Não estava em sua agenda. Não se anota amores na agenda. Na segunda recaída, perguntará o que faço aos conhecidos. As demais recaídas será como soluços depois de tomar muita água. Adeus, meu amor. Terá filhos com outros homens. Terá insônia com outros homens. Desvirá de assunto ao escutar meu nome. Adeus, meu amor.

Carpinejar

domingo, 25 de novembro de 2012


“ Ando com uma vontade tão grande de receber todos os afetos, todos os carinhos, todas as atenções. Quero colo, quero beijo, quero cafuné, abraço apertado, mensagem na madrugada, quero flores, quero doces, quero música, vento, cheiros, quero parar de me doar e começar a receber.”


E você não sabe quantos sorrisos eu já dei só de pensar em você.


Que continue sendo doce o seu modo de demonstrar afeto , o seu jeito , seus olhares , seus receios . . . Que doce seja uma ausência do nosso medo , o seu abraço e a maneira como segura minha mão . Que seja doce , que sejamos doce e seremos , eu sei . . .


Também não sei se o que me prende tanto a você. Deve ser justamente essa impossibilidade de sermos, finalmente, nós.


"Eu disse que sonharia com você, apenas pela certeza de que sua imagem linda, clara, fascinante, jamais sairia da minha cabeça. Ao me deitar eu estava pensando em ti, eu não sei se é sonho, eu não sei mesmo o que acontece, mas eu te sinto sempre, até enquanto durmo, sinto seu toque, sua voz, seu sorriso. Sinto e vejo tudo, meu misto de sonho e realidade, por que demorou tanto pra chegar? Eu guardei um sonho bom pra ti, essa noite toda, foi perfeita, eu estive com você, da forma mais incrível, toquei seu coração, te dei o meu e recebi o seu. Ao amanhecer sua imagem continuava nítida em minha mente, meio sonolenta acabei despertando pelo vibrar do celular (..) E tem sido você e vai continuar sendo você."

Caio Fernando Abreu.

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

é feliz e é do bem

É que a gente gosta de celebrar o amor todo dia, sem data. Com desapego, que é uma coisa que vou ter que te ensinar. A gente gosta é dos abraços sem aviso, dos encontros sem horário, dos beijos que nos faz far risada, e também dos que damos entre risos. Coisas assim, bem a nossa cara. A gente nem sabe direito o dia que tudo começou, a gente só sabe que é amor. Que parece sempre novo e faz a gente querer continuar suspirando de alegria. E você também é boa companhia, mesmo triste, mesmo preto e branco porque mim você sempre tem cor. É que o maior motivo da gente se encontrar foi pra descobrir o amor em outras formas. E que amar tem tantos significados que até me perco. Mas você me acha, sempre. E amar talvez seja outra coisa. Uma mistura de pé no chão e cabeça no teu peito. É você ir embora mas deixar tudo comigo, olhos, cheiros, mão, palavras, riso...
Quero ficar presa dentro do teu abraço por muito tempo. Esse sentir-se livre estando presa. É que teu abraço serve de curativo pras dores todas. É o jeito mais fácil do meu coração alcançar o teu. Um amor que vai além de dividir problemas ou riso. Não cabe, não tem nome. Ele é.
Que a gente continue com essa sintonia que só a gente tem e com uma alegria com cara de sexta-feira-feliz. Que é uma das coisas mais bonitas e que quero guardar pra sempre.Sempre. E cuidar com amor.
E sei que coração é coisa pesada pra se dar. Sei também que ele me pertence. Mas mesmo assim quero dá-lo a você

.Vanessa Leonardi

sábado, 3 de novembro de 2012

'Palavras não descrevem os olhos, as bocas, os braços e abraços, nem a alegria até então desconhecida, surgida de um (re) encontro. Pra quem, há dias atrás, refletia tanto as obras do acaso, hoje compreende que realmente, o acaso não passa de um simples nada, e acredita em algo bem maior que isso. Que levará a um próximo reencontro, sem sombra de dúvidas. Mas até lá, todas as músicas cantadas estarão na mente, todos os sorrisos que ainda não acreditavam no que estava  acontecendo, todos os olhares que transpareciam toda a magia do momento.'

Caio Fernando Abreu

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Qui Nem Jiló

Se a gente lembra só por lembrar
Do amor que a gente uma dia perdeu
Saudade inté que assim é bom
Pro cabra se convencer
Que é feliz sem saber
Pois não sofreu

Porém, se a gente vivi a sonhar
Com alguém que se deseja rever
Saudade intonce aí é ruim
Eu tiro isso por mim
Que vivo doido a sofrer

Ai, quem me dera voltar
Pros braços do meu xodó
Saudade assim faz doer
Amarga que nem jiló

Mas ninguém pode dizer
Que vivo triste a chorar

Saudade, meu remédio é cantar
Saudade, meu remédio é cantar

Gonzagão.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Quem Somos Nós?

Quem sou eu?
Sou um livro de páginas repletas de sentimentos ocultos.
Quem é você?
Você é o meu silêncio.
Quem sou eu?
Sou os acordes leves dissonantes entoados a vida.
Quem é você?
Você é a canção que ouço ao barulho dos ventos.
Quem sou eu?
Sou a leve impressão digital num coração.
Quem é você?
Você é o clarão do sol que acorda mais cedo para giar meus passos.
Quem sou eu?
Sou o olhar raro e represante de lágrimas refinadas.
Quem é você?
Você é a flor que abraça com cuidado para não me ferir com seus espinhos frágeis e afiados.
Quem sou eu?
Sou a história concreta da vila dos loucos.
Quem é você?
Você é a certeza de que existe o amor em máquinas pensantes.
Quem sou eu?
Sou o choro de gaivotas sobre rios e riachos.
Quem é você?
Você é o canto sutil do respirar do ser.
Quem sou eu?
Sou a vontade louca de amar incansavelmente.
Quem é você?
Você é a maciez das pedras e a rigidez das plumas.
Quem sou eu?
Sou o pacto de assumir o impossível.
Quem é você?
Você é o pacto de tornar possível a certeza do impossível no silêncio ardente.
Quem sou eu?
Quem é você?
Quem somos nós?
Somos o resultado de uma soma dividida num respirar, num parecer de estatísticas lançadas sobre a escuridão reinante em noites de lua. Somos os galhos que apalpam troncos rígidos entre portões vigilantes do medo, as folhas que envolvem os frutos do pecado, a casca dura molhada de desejos secos na manhã. Somos o não e o sim, o abraço e o beijo, o talvez da dúvida maluca, o hoje contando as horas do amanhã, os segundos do depois, os milésimos do depois, do depois...
Quem sou eu?
Quem é você?

Por: Toinho Chagas.

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

"Pois quando a gente abraça, traz para dentro a pessoa: com bagagem, passado, infância, viagens e o principal: seu perfume espiritual."

Marla de Queiroz

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Always

'tá chovendo no meu quarto e, você sabe, às vezes eu fico um bocado menininha nesses dias de chuva. Te arranhei um recado pouso antes, desenhei umas palavras bem bobas só pra dizer o quanto te quero, te admiro, te quero bem. Tem vezes que destôo  um pouco da nossa rotina, outras que a gente se estapeia, mas, num apanhado geral, você consegue perceber como nos damos bem? A gente se conhece no íntimo, a gente se reconhece nos suspiros, na troca de olhares, na mensagem de texto. Nós nos entendemos num ponto, numa vírgula, num telefonema que falta no meio da tarde, num bom dia amassado em voz de ressaca, num abraço de vamos-dormi-só-mais-um-pouquinho. Eu estou feliz, sabe garoto? Tem quem diga que felicidade muita, tem mais é que ser guardada a sete chaves, escondida do mundo e da inveja. Concordo descordando, sabe? Acho que nós, depois de tanto, já estamos e desdenhar a felicidade alheia porque não sabem como bordar alegria às sua rotinas. Tiramos de letra, meu caro. Depois de muito apanhar e viver verdadeiros tsunamis em dias de mar manso, Aprendemos a tirar de letra. Aprendemos a driblar a infelicidade, a mesmice. Aprendemos a colorir os dias cinzas, a amanhecer cantando e dançando, a permitir a preguiça debaixo dos lençóis, a repetir o mesmo cardápio todo santo final de semana e, nem assim, rotinizar. Whatever, rapaz. O fato é que 'tá chovendo manso no meu quarto e eu te desenhei umas palavras bobas porque a felicidade - tal como a tristeza - quando é demais também precisa transbordar. E eu transbordo entre sorrisos, e eu te aninho em pensamentos, te mimo, te guardo, te quero bem. Te quero muito bem. Nos quero sempre bem.

See i'm all about them words
Cause you and i both loved

É a vida.

Ando, sei lá, de cara virada pra muita coisa. Virei o rosto pro céu cinza, virei os olhos pros desamores, paras as brigas mornas, para as birras inúteis. Antipatia mesmo! Não querer saber mesmo! Pouco me importa. De verdade! Pouco. Me. Importo. 'to cansadinha dessa gente toda que dá valor pras desavenças, que transforma furacão qualquer brisinha que lhes desarrumem os cabelos. Vamos acordar! Parar de enxergar o umbigo e achar que o mundo inteiro tem que dançar conforme a nossa música. Temos que aprender - e rápido - a nos movimentar conforme o universo dita a melodia. Acho que felicidade é um tanto isso: dançar no ritmo da vida. Não dá para convencer a vida a ir no nossos passos, porque o tempo não tem botão de pause. A coisa toda vai funcionando, girando, tiquetaqueando. As crianças não param de crescer, o mundo não deixa de mudar e todo segundo tem alguém novo chegando, alguém indo embora, alguém se beijando, se despedindo, se odiando, perdendo o emprego, ganhando uma promoção, ganhando um filho, perdendo um filho, comprando flores, olhando o mar, assoprando um dente-de-leão... então, pra que perder tempo com birras inúteis como tentar fazer tudo e todos olharem a vida do seu jeito? Desista, sério. Se traveste de bailarina, de Pierrot. Fantasie-se pra levar a vida de forma menos dura, mesmo sofrida. Problemas todos tem. Dificuldade todos passam. Mas de forma menos dura, menos sofrida. Problemas todos tem. Dificuldade todos passam. Mas pra tudo tem os dois lados da moeda. O lado bom da coisa e o lado ruim da coisa. O lado poesia e o lado fúnebre. Então eu venho virando a cara pra muita coisa... sempre voltada pra o lado simpático da vida.

Por: Maria Fernanda