quinta-feira, 31 de maio de 2012

Pode invadir ou chegar com delicadeza, mas não tão devagar que me faça dormir. Não grite comigo, tenho o péssimo hábito de revidar. Acordo pela manhã com ótimo humor mas... permita que eu escove os dentes primeiro. Toque muito em mim, principalmente nos cabelos, e minta sobre minha nocauteante beleza. Tenho vida própria, me faça sentir saudades, conte algumas coisas que me façam rir, mas não conte piadas e nem seja preconceituoso, não perca tempo, cultivando este tipo de herança de seus pais. Viaje antes de me conhecer, sofra antes de mim para reconhecer-me um porto, um albergue da juventude. Eu saio em conta, você não gastará muito comigo. Acredite nas verdades que digo e também nas mentiras, elas serão raras e sempre por uma boa causa. Respeite meu choro, me deixe sozinha, só volte quando eu chamar e, não me obedeça sempre que eu também gosto de ser contrariada. (Então fique comigo quando eu chorar, combinado?). Seja mais forte que eu e menos altruísta! Não se vista tão bem... gosto de camisa para fora da calça, gosto de braços, gosto de pernas e muito de pescoço. Reverenciarei tudo em você que estiver a meu gosto: boca, cabelos, os pelos do peito e um joelho esfolado, você tem que se esfolar às vezes, mesmo na sua idade. Leia, escolha seus próprios livros, releia-os. Odeie a vida doméstica e os agitos noturnos. Seja um pouco caseiro e um pouco da vida, não de boa que isto é coisa de gente triste. Não seja escravo da televisão, nem xiita contra. Nem escravo meu, nem filho meu, nem meu pai. Escolha um papel para você que ainda não tem sido preenchido e o invente muitas vezes. Me enlouqueça uma vez por mês mas, me faça uma louca boa, uma louca que ache graça em tudo que rime com louca: loba, boba, rouca, boca... Goste de música e de sexo. Goste de um esporte não muito banal. Não invente de querer muitos filhos, me carregar para a missa, apresentar sua família... isso a gente vê depois... se calhar... Deixa eu dirigir o seu carro, que você adora. Quero ver você nervoso, inquieto. Olhe para outras mulheres, tenha amigos e digam muitas bobagens juntos. Não me conte seus segredos... Me faça massagem nas costas. Não fume, beba, chore, eleja algumas contravenções. Me rapte! Se nada disso funcionar... experimente me amar!




Blog.: Mil planos feitos

sexta-feira, 25 de maio de 2012

minha bailarina,

Nos amávamos sob um céu azul, bem particular. Admirava-a em silêncio, declamando poesias com os olhos, envolvendo-a num abraço íntimo. A fiz dançar. Assoprava seus cabelos para longe do rosto, beijava-lhe as pálpebras, as bochechas e o pescoço - como nino fez em amelie - e cantarolei em seu ouvido que faria o filme eterno, que tinha acabado de lhe tatuar memórias. Minha bailarina sorria, enlaçava seus bracinhos magrelos em meu pescoço e se fazia minha até onde a timidez permitia, permitindo cada dia um punhado mais. Se entregava, todinha minha. E descansava lépida, entregue ao sonho que lhe acalentava, alheia de minha presença enquanto eu a vida dormir.

Acordava corada, saudável. Abraçava com os dedos a alça de uma caneca cheinha de café e me dava um beijo de bom dia, daqueles com gosto de preguiça. Bebericava o café na janela, olhando meu mundo e se tornando - cada dia mais - parte dele. Eu lhe mostrava vídeos e ríamos. Eu declamava poesias e a via engolir as lágrimas "bobas de feliz" e sorrir sem jeito. Ela sempre soube quem era o "você" dos meus poemas, mas fingia que não. Sorria, sempre. Meu pequeno apartamento era travestido de felicidade desde que ela pôs seus pés aqui dentro, desde que derramou aquelas pipocas no chão e infestou meu tapete com seus fios louros outonais.

E contava-lhe sobre arvorezinhas e saíamos comprar vinhos e eu lhe fazia o jantar enquanto ela me ouvia narrar da vida, encostada com a cabeça na parede, atenta a tudo e desastrada, apagando luzes e derrubando copos. Ela foi a primeira bailarina desastrada que conheci e me encantei com esse jeito, firme e mulher, mas tão tímida e menina. E minha. Ela pedia desculpas e ria e tudo se repetia. Todo dia. Eu, ela, nosso céu, Os rios, os vídeos, as poesias, as indiretas. O "te adoro" que tinha tímido, escrito num post-it coloca no espelho do banheiro...

(...)

"de repente toda mágica se acabou". Nosso céu, tão azul, nublou e choveu muito nesse quarto. Eu segurava sua cabeça entre minhas mãos e implorava - como nunca havia feito - que ficasse. Mergulhei meus olhos nos dela, esquivos, e implorei. Ela estava impassível, chorosa e visivelmente triste. Pediu desculpas. Sussurrou que me amava e saiu apartamento a fora. "Pra minha poesia é ponto final". Hoje a bailarina, impregnada nas nuances desse mundo vazio, é a minha saudade de chumbo, tatuagem na memória, nos espaços, nos detalhes. E eu, soldado largado, me "despeço da magia que balançava o mundo".

"Tá faltando graça e tá sobrando espaço. (...) Conta se seu rosto, por acaso, ainda tem o gosto meu?"

- 'Bailarina, saudade de chumbo', Palavras e Silêncio.

terça-feira, 22 de maio de 2012

Eu vou viver com intensidade cada segundo. Vou amar muito, e pretendo ser amada também. Ser feliz sempre, sorriso de orelha á orelha. Não importa as circunstâncias eu vou curtir. correr riscos, enfrentar meus medos. Confiar no meu equilíbrio, e se acaso eu cair, ralar os joelhos e os cotovelos, eu levanto, bato o pó, meto um band-daid e prossigo. Por que a vida é assim, um sobe e desce e não é por isso que vou ficar parada, apenas olhando ela passar.

Pietra Mariah

quinta-feira, 17 de maio de 2012

O amor não termina - esquece de começar. (...) O amor que não esqueço é justamente o que não sei os motivos do seu fim. O amor que permanece é aquele que não sei como começou. (..) Provoco mais ausências do que presenças. Minha profissão é criar ausência. (...) É mais difícil virar a página de um livro velho. (...)Quem ama sem violência não conhece a ternura para consolar. Há dias em que todas as estações se encontram. (...) A realidade possível vira prosa; a realidade impossível é poesia. (...) O fundo do poço é água voando. Brigo com os fatos para favorecer a imaginação.

Fabrício Carpinejar

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Coisas de amor são finezas que se oferecem a qualquer um que saiba cultivá-las, distribuí-las, começando por querer que elas floresçam. E não se limitam ao jardinzinho particular de afetos que cobre a área de nossa vida particular: abrange terreno infinito.

Carlos Drummond de Andrade
Tem gente que entra na nossa vida de forma providencial e se encaixa naquela história que gosto de imaginar: Surpresas que Deus embrulha pra presente e nos envia no anonimato. Surpresas que só sabemos de ondem vêm porque chegam com o cheiro dele no papel.

Ana Jácomo

segunda-feira, 14 de maio de 2012

letra de flor;

Peguei um livro, desses inacabados, esquecidos num canto qualquer do armário e me deparei com a tua caligrafia miúda "Para a menina bonita bordada de flor" e só, nem sequer inicial do teu nome. Folheei pra ver quão longe eu teria ido e vi, manchando as páginas, uma flor seca, gordinha de saudade. Aquela flor da cerejeira que caiu molhada de orvalho sobre meu colo na tarde da nossa despedida de saudade. Aquela flor da cerejeira chorava suas flores enquanto eu te via já bem distante, indo embora, e ao mesmo tempo ficava ainda tão firme no meu peito, mantendo morada no meu coração. Como eu podia te amar tanto? Como eu podia te querer tanto? Fiquei ali, te vendo partir. Meus olhos secos como quem não se importa. A flor, guardei comigo. E estava ali, perdida naquelas linhas que tu me deste num verão sereno, naquelas linhas com sabor de café da amanhã. E num dia frio como hoje, diferente de tudo de mais caloroso daquele dia de estação de sol, a memória me trai e te tira de dentro do armário empoeirado de lembranças.  Como se num momento de distração você se achasse no direito de mostrar que a cerejeira continua no mesmo lugar e que a sombra dela ainda é pura ternura. Mas você quis levar seu coração e me deixar em troca essas linhas, desse livro que comprou por comprar, só pra deixar uma dedicatória de letra miúda e me chamar de sua flor.


.Palavras e Silêncio.
"Eu espero que a vida te surpreenda e que você não se prenda, não se acanhe, não duvide. Porque parte das coisas boas vem das lutas, mas a outra parte vem sem avisar. Eu desejo que os dias te peguem desprevenido, desajeitado, despreocupado. Afinal, o que não foi programado também funciona, nem toda ação inesperada merece ser descartada e algo não planejado pode vingar."

Fernanda Gaona
Porque quando você ama sente necessidade da outra pessoa. Não por dependência, carência e outras ências. Mas porque é bom estar ali, com o corpo junto, coração do lado, ouvindo a respiração. Você se sente em casa.

Clarissa Corrêa
E quando eu percebi, eu era feliz. Naquele instante, ri como uma criança faz ao saborear a delicia da própria travessura. Ser feliz é a melhor arte que podemos nos flagrar aprontando. Quando estamos relaxados fica mais fácil sentir que a alegria não vem só do brinquedo: Começa em quem brinca. Nós, adultos, nos esquecemos que a felicidade já é. Que está disponível mesmo quando não conseguimos acessá-la. Que mora nas coisas mais simples do mundo. Essas aqui, bem próximas do nosso alcance.

Ana Jácomo
O que é que faz a gente se apaixonar por alguém? É o jeito. A gente se apaixona pelo jeito da pessoa. Não é porque ele cita Camões, não é porque ele tem olhos azuis: é o jeito dele de te dizer versos em voz alta como se mesmo os tivesse escrito pra nós. É o jeito dele de piscar demorado seus lindos olhos, como se estivesse em câmera lenta. O jeito de caminhar. O jeito de usar a camisa pra fora das calças. O jeito de passar a mão no cabelo. O jeito de suspirar no final das frases. O jeito de beijar. O jeito de sorrir. Vá tentar explicar isso.

Martha Medeiros

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Não permita uma queda!

Não sinto mais os pés no chão. E isso da uma insegurança tamanhã. Mas você não me deixa voltar, ficar em terra firme. Parece que esta flutuando é tão normal. Você faz isso tão naturalmente, tão tranquilo, é admirável, e me causa um medo tão grande de ficar ali, lhe admirando e acabar despencando. Gostaria de ter a certeza e que você não deixaria isso acontecer, mas não tenho. Mesmo sendo feliz aqui em cima, mesmo sendo tudo tão lindo, mesmo você me tratando tão bem, a insegurança, por enquanto, ainda consegue ser maior. Me diz, como você consegue? Como não sente medo? Sorri tão lindo, e diz que é ótimo flutuar comigo, que mesmo perto, sente saudade, e acaba me deixando sem folego. Esta tudo tão azul, tão bem. Por favor, cuida de mim e não me deixa cair.

Pietra Mariah

sábado, 5 de maio de 2012

Quando a gente gosta, a gente cuida. Cuida mais do que devia. Gostar é se prevenir do desgosto. A gente nunca sabe o que é suficiente, a gente vai se doando, se gastando, sem pedir troco. A gente gasta mais do que tem e corre atrás para imaginar o que não viveu para não fazer falta à memória mais adiante.

Fabrício Carpinejar

sexta-feira, 4 de maio de 2012

nada. nadinha.

Então o problema é só esse: uma vontade de chorar até que passe. Aí que vão me perguntar "passar o quê?" e eu vou responder que nada. Uma, duas, três vezes. Até que vou me cansar de tanto dizer que nada e ninguém enxerga que tudo e vou acabar por ficar quieta e deixar que a vontade de chorar não fique mais tão na vontade e vou deixar o travesseiro úmido e a alma leve. E quando me virem com água nos olhos, inventarei uma desculpa qualquer, é certo. Eu sempre fujo das verdades e me sinto uma completa covarde por ficar levando a vida desse jeito cômodo. Cômodo pra quem? Pra vida, meu cora, não pra mim. Ou talvez até seja um tantinho cômodo pra mim, vá lá. Sem hipocrisias, certo? O problema é que tudo se acumula de um jeito torto e claustrofóbico aqui do lado de dentro e quando não dá mais pra suportar, estouro. E falo e conto e peço e tudo parece só um disco arranhado, repetitivo que - não pela primeira vez - está dizendo tudo de novo, apertando na mesma tecla, se anulando um pouco, implorando nas entrelinhas e vendo a vida passar e continuar exatamente na mesma. Então o problema é esse. E eu choro até que passe.

Tolice é viver a vida assim,
Sem aventuras.

Palavras e Silêncio

um estranho no espelho

Rabisquei teu nome no espelho embaçado e fiquei observando-o sumir debaixo do meu nevoeiro particular. E tornava a rabiscar e ver sumir e escrever novamente. Letras garrafais, letras cursivas, garranchos. Te via, te lia e te perdia. Seis, oito, doze vezes. E me perdia suavemente no teu nome descrito ali e na minha alma. Alinhava cada letra na quentura que invadia o espelho, desalinhando a saudades sem cor, subscrita na curva do peito. Como podia tanto passar de anos e você continuar firme, forte e pulsando aqui, do lado de dentro? Eu quis te odiar cada vez que te lia e cada vez que tu sumia, mas não conseguia. Sequer consegui. Tem algo de mágico nas letras do teu nome que rabisco, todo dia, no espelho que - outrora- também te via. E te via carinhosamente. E te desenhava assim, por dentro, aninhava teu nome, como se você estivesse ali - tão presente, com amor, com a saudade que pulsava ali comigo. Naquele espelho, eu te via e te alimentava na verdade que eu sabia, que nunca sairia dali desembaçada. Teve um tempo que tu vinhas e me abraçava e juntos desenhávamos uns dizeres de Quintana, rabiscávamos uns corações tortos e riamos entre beijos. Hoje tem só teu nome que, letra por letra, ponho ali, naquela superfície fria e embaçada. E você vem. E você some. E não há mais nada.


Palavras e Silêncio

quarta-feira, 2 de maio de 2012

O amor é filme, eu sei pelo cheiro de menta e pipoca que dá quando a gente ama. Eu sei porque eu sei muito bem como a cor da manhã fica. Da felicidade, da dúvida, dor de barriga. É drama, aventura, mentira, comédia romântica.

Cordel do Fogo Encantado