sexta-feira, 25 de março de 2011

'aquarela da saudade'

Diante desse colossal sono que a falta dela me trás,
A ausência me apanha a vontade de existir
Sem a terra dos nosso toques, habito as lacunas do viver
Um sol sem farol para aclarar essa dor e apagar a sombra que me 
nubla o peito
Um riacho sem entusiasmo ancorou sua correnteza na solidão e 
perdeu o motivo para desaguar em qualquer outro ventre
Afinal minha fruta tem sabor de nada se a boca que me abocanha não
tiver os lábios da amada
Lágrimas de letras, aquarela angustiada, mancham o branco lindo que
bem vestia nossa paz
Jazz o nosso "de hoje em diante! e a história passa a ser escrita "de 
cá para trás", batemos a porta o amanhã na cara da felicidade,
libertando da gaiola somente a araponga do passado, e em um vôo
franco, apenas as recordações alcançarão nosso céu, somente
lembranças transarão o nosso ardor
Um pouco morto... eu vivo! Por muito pouco... não levanto! Com
tanto pranto... não tenho socorro! Sem o seu sopro... meu vento é o
choro! De qualquer morro... desabo amargura! Na secura da 
saudade... atado me esqueço! De um grande amor... vencido despeço!
Meu preço no agora... é uma nota rasgada! O afeto se lançou da
escada... Partiu nosso sonho ao meio.

  • Caio Sóh

Rasgo

Nada pode cicatrizar um corte onde a saudade escorre fiel a beleza de um nobre passado.

Caio Sóh

quinta-feira, 24 de março de 2011


"Não sou pra todos. Gosto muito do meu mundinho. Ele é cheio de surpresas, palavras soltas e cores misturadas. Às vezes tem um céu azul, outras tempestade. Lá dentro cabem sonhos de todos os tamanhos. Mas não cabe muita gente. Todas as pessoas que estão dentro dele não estão por acaso. São necessárias."

Caio
'E mesmo sorrindo por ai, cada um sabe a falta que o outro faz.'

[Caio F.]
"... Ando de um lado pra outro, dentro de mim, as mãos abandonadas, pronta pra inventar uma tragédia russa, pronta pra criar um motivo que me acorde... horrível. Estou tão vaga, tinha vontade de fazer um embrulho de mim, com papel de seda, lacinho de fita, e mandá-lo pra você. Aceita?"


Clarice Lispector

quarta-feira, 23 de março de 2011

Tenho medo de, dia após dia, cada vez mais não estar no que você vê. E tanto tempo terá passado, depois, que tudo se tornará cotidiano e a minha ausência não terá nenhuma importância. Serei apenas memória, alívio, enquanto agora sou uma planta carnívora exigindo a cada dia uma gota de sangue para manter-se viva. (...) Mas um dia será demasiado esforço, excessiva dor, e você esquecerá como se esquece um compromisso sem muito importância. Uma fruta mordida apodrecendo em silêncio no quarto.



  • Caio Fernando Abreu

terça-feira, 22 de março de 2011

"A noite - enorme, tudo dorme,
menos teu nome." (Paulo Leminski)
Virava pra lá, e pra cá na cama, estava impaciente, até me senti no escuro, pensei: Não era uma posição o que eu procurava. Era você.

(Caio Fernando Abreu)

sábado, 19 de março de 2011

'Querido Caio.

-Trechos-
"E seu eu mudasse meu destino num passe de mágica? (...) Estranho, mas é sempre como se houvesse por trás do livre-arbítrio um roteiro fixo, pré-determinado, que não pode ser violado."

:*

"Tento me concentrar numa daquelas sensações antigas como alegria ou fé ou esperança. Mas só fico aqui parado, sem sentir nada, sem pedir nada, sem querer nada."

:*

.Tenho uma coisa apertada aqui no meu peito, um sufoco, uma sede, um peso, não me venha com essas histórias de atraiçoamos-todos-os-ideais, nunca tive porra de ideal nenhum, só queria era salvar a minha, veja só que coisa mais individualista elitista, capitalista, só queria ser feliz, cara."

:*

"Parece incrível ainda estar vivo quando já não se acredita em mais nada. Olhar, quando já não se acredita no que se vê. E não sentir dor nem medo porque atingiram seu limite. E não ter nada além deste amplo vazio que poderia preencher como quiser ou deixá-lo assim, sozinho em si mesmo, completo, total. Até a próxima morte, que qualquer nascimento pressagia."

:*

"Todos os dias o ciclo se repete, às vezes com mais rapidez, outras mais lentamente. E eu me pergunto se viver não será essa espécie de ciranda de sentimentos que se sucedem e se sucedem e deixam sempre sede no fim."

:*

.Mas se eu tivesse ficado, teria sido diferente? Melhor interromper o processo em meio: quando se conhece o fim, quando se sabe que doerá muito mais - por que ir em frente? Não há sentido: melhor escapar deixando uma lembrança qualquer, lenço esquecido numa gaveta, camisa jogada na cadeira, uma fotografia - qualquer coisa que depois de muito tempo a gente possa olhar e sorrir, mesmo sem saber por quê. Melhor do que não sobrar nada, e que esse anda seja áspero como um tempo perdido.

:*

"Me explica, que às vezes tenho medo. Deixo de ter, como agora, quando o vento cessa e o sol volta a bater nos verdes. Mesmo sem compreender, quero continuar aqui onde está constantemente amanhecendo."

:*

"Me ajuda que hoje eu tenho certeza absoluta que já fui PESSOA ou VIRGIANAwools em outras vidas, e filósofo em tupi-guarani, enganado pelos búzios, pelas cartas, pelos astros, pelas fadas. Me puxa para fora deste túnel, me mostra o caminho para baixo da quaresmeira em flor que eu quero encontrar em seu tronco lótus de mil pétalas do topo da minha cabeça tonta para sair de mim e respirar aliviada e por um instante não ser mais eu, que hoje não me suporto nem me perdôo de ser como sou sem solução."

:*

"Olha, eu estou te escrevendo só pra dizer que se você tivesse telefonado hoje eu ia dizer tanta, mas tanta coisa. Talvez mesmo conseguisse dizer tudo aquilo que escondo desde o começo, um pouco por timidez, por vergonha, por falta de oportunidade, mas principalmente porque todos me dizem que sou demais precipitado, que coloco em palavras todo o meu processo mental (processo mental: é exatamente assim que eles dizem, e eu acho engraçado) e que isso assusta as pessoas, e que é preciso disfarçar, jogar, esconder, mentir. Eu não queria que fosse assim. Eu queria que tudo fosse muito mais limpo e muito mais claro, mas eles não me deixam, você não me deixa."

:*

"Essa morte constante das coisas é o que mais dói".

Tic, tac...

A vida passa... E vejo o tic, tac frenético do relógio que me faz companhia. Meus dias já não são os mesmos, à tal felicidade já não tem o brilho que tinha de antigamente e hoje, me sinto desnorteada e sem rumo, já não sinto mais os mesmo gosto e os perfumes já não têm os mesmos cheiro. Falar do amor já não é a mesma coisa. E tudo vai passando no nosso relógio que faz um tic, tac frenético.

Ghost.

sexta-feira, 18 de março de 2011

.com fios de amor.

Era saudade, sim, eu pude dar nome quando tocou o meu instante com mão de surpresa e me convidou pra sentir. Eu deixei que crescesse, que expandisse seus ramos, que florisse com calma, sem tentar adiá-la ou entretê-la, essas coisas que às vezes a gente tenta fazer com saudade que machuca, e vez ou outra até consegue. Mas aquela, eu pressenti pela melodia do perfume que emanava, aquela não tinha a mínima intenção de ferir. Aquela não saberia, ainda que tentasse. Aquela, eu sei, não tentaria.

Não era daquelas saudades que fazem a musculatura da vida ficar toda contraída de dor. Daquelas que amordaçam as flores e espantam as borboletas. Daquelas que engasgam o canto e fazem as asas encolherem. Daquelas traiçoeiras que, na primeira oportunidade, quebram as pontas dos nossos lápis de cor. Daquelas que escondem os brinquedos da gente nas prateleiras mais altas e, por via das dúvidas, encurtam os braços do nosso contentamento. Daquelas que inflam nuvens que depois inundam tudo de carência e de tristeza. Não, aquela não.

Aquela era uma saudade feita de um punhado de sorrisos viçosos floridos no jardim da memória. Era pássaro que cantava macio na árvore mais frondosa da minha gratidão. Era mar que estendia ondas suaves de ternura por toda a orla dos meus olhos. Aquela era dessas saudades que toda vez que dizem acendem um mundaréu de estrelas no céu do coração. Era uma certeza de que a vida sempre arruma maneiras para aproximar as almas irmãs, esses anjos vestidos de gente que tornam mais fácil e mais feliz a nossa temporada de aulas e recreios nesse mundo.

Aquela era dessas saudades bem-vindas que trazem também descanso e alegria na sua cesta de bênçãos. Era dessas saudades que derrubam cercas e desenham pontes. Era dessas saudades que desembrulham lembranças que deixam o instante da gente todo perfumado de DEUS. Aquela era dessas saudades generosas que bordam sol no tecido da alma com os seus lindos fios de amor.


Ana Jácomo

quarta-feira, 16 de março de 2011

"(...) regras não servem pra mim. Não tenho vocação pra bailarina, tenho fobia de linha reta, tenho o corpo livre, o espírito solto, sou do mundo, das pessoas, das conquistas, das novidades, vou construindo fatos e lembranças nas esquinas. A vida que tem lá fora gritou e eu não ouvi. Agora me movo a passos curtos, ziguezagueando por entre mudas de flores recentes que querem ser botão. Eu quero ser flor: quero terra viva que se mova e me faça mover."

Verônica H.
Que o olhar que me paralisa, paralisasse você também no tempo.

(...) E me bastava te ver, bastava você rir, e pegar minha mão às vezes.
Eu me apaixonava na mesma medida que me iludia. Ilusão. Não que
ilusão seja ruim. É preciso de vez em quando, muito de vez em quando.
Precisamos nos auto-iludir. Se não houvesse essa possibilidade de
ilusão, talvez eu e você não tivesse acontecido. E acontecer pode ser 
bom. Vale que aconteça. Vale o olhar que paralisa enquanto o mundo 
gira para nos despertar.


Cáh Morandi
Eu sei quem sou, e sei pelo que devo lutar! Se você acha que meu orgulho é grande, é porque nunca vu o tamanho da minha .

terça-feira, 15 de março de 2011

.Deixa eu te carregar no olhos, moça.

Olhe nos meus olhos e o que você vai ver
Seu rosto iluminado, a lua de um além...

Deixa eu te carregar nos olhos, moça, para que possa te prender entre meus cílios quando o medo me assombra da porta. Depois de muito tentar, botei uma placa de acesso restrito no peito e cá dentro só entram aqueles sentimentos que deixo entrar. Os outros, permito que olhem de fora, mas que não se demorem. E de tudo e todos, o medo é o que vem com mais frenquencia, embora nem tanta que dê vez para se preocupar. É aquilo de ter as coisas no lugar que preocupa, sabe moça? Parece que o muitoBEM, obrigada vem embrulhado num papel fino de insegurança boba, só por não querer por um ponto final numa história que vem sendo bonita.

Você sempre brilha nos meus olhos, moça, quando teu nome sai sem querer dos meus lábios ou quando os pensamentos não são mais meus e passam a pertencer a ti. E o sorriso dança bobo no canto da boca, desfazendo meu cuidado em não deixar transparecer. Minto, o cuidado de deixar transparecer pouco. É como comento, moça, com você eu me perdi já no OI e não foi tão difícil me entregar por inteira, me envolver toda. Você não precisa ser tão você que ainda sim eu me vestiria toda tua e seria fácil, tanto quanto é.

Piegas. Dou um jeito de me apaixonar por você todo dia, moça. Permita que eu me apaixone todo dia e me dê mil motivos para continuar me apaixonando. Vê o lado bom, moça? Não há segredos nem fórmulas certas para que você continue acertado sempre, você só precisa ser você mesmo, não perder a piada nem esquecer as poesias. No mais, a gente se inventa. Se veste, se colore, pinta e borda. E eu vou me satisfazendo de você, sem nunca me saciar por completo. O tempo é sempre pouco quando te tenho perto e não conheço o rosto da vontade  de ir embora. E nem quero.

Tudo bem moça, pode vir você com a tua sina de não dar audiência para as minhas linhas, mas não há nada aqui que não tenha sido dito. Por mais que as palavras se estanquem na garganta e o silêncio predomine, há um bocado de tranquilidade entre a gente que diz mais do que a fala realmente seria capaz e que saber? Nem me arrisco dizer, Traduzir. Só permito transparecer, moça, do jeito manco que sei fazer. E fico. E carregado uma expectativa mansa de que baste, de que você veja e que você permita que eu te carregue nos olhos, moça, para te prender quando o medo der tchau da porta e para me acompanhar quando vou me abraçar nos sonhos...


Palavras e Silêncio

sábado, 12 de março de 2011

Há poema mais bonito que um gesto de amor?
Até os iletrados são capazes dessa leitura.

quinta-feira, 10 de março de 2011


Porque não me interessa a realidade, interessa-me se é possível. Sendo possível, insisto.

Fabrício Carpinejar

quarta-feira, 9 de março de 2011


Há de querer ser leve, assoprada, bailarina. Dente-de-leão dançando no vento, voando sem pressa e sem saber aonde vai - e aonde quer - chegar. Frágil menina forte, que disfarça a fragilidade e os medos infantis nos risos de mulher suficiente, competente e dependente, escondendo por detrás dos passos firmes a carência, as paixões e as necessidades, que vão além de um copo d'água e de comida frequente. Tem-se sede de amor, de carinho tempo inteiro, de toque e mais toque e um pouco mais de toque, só para não faltar. Necessário ser presente, fazer-se presente e doar-se presente, desejá-la com leveza e segurá-la como se pudesse quebrar. E pode. É moça de porcelana, de vidro por vezes, tamanha capacidade que tem de deixar transparecer, por mais que sempre e sempre e toda vida tente disfarçar. Leitura fácil e singela, basta penetrar o olho e fazer coceiras na alma. Tudo se revela num desviar de olhar, que enrubesce e que cala falando mais do que poderia - e deveria - contar. E se permite, e deixa ser levada e envolta e segura, e desfalece em braços que sabem o que querem, em corpos que dizem mais do que a boca, em beijos que revelam segredos e em danças sem músicas, ritmadas alternadas, num desfecho digno de star. E chove purpurina e o céu se torna particular e dela, todo dela, pronto para lhe levar e assoprar e permitir que seja, que voe, que chova. Que vá para algum lugar. E vai, fugindo, sentindo, amando, sendo toda-toda e pedindo pra ficar...

quinta-feira, 3 de março de 2011


Que seja doce. Repito 7 vezes...

Que seja doce, que seja doce, que seja doce, que seja doce, que seja doce, que seja doce, que seja doce...

Categories


[Sobre]nomes - as palavras que voam em encontro de corações sofridos, de amores queridos e de amor pra uma vida inteira.

do outro lado - o outro lado da versão de uma história já contada.

foto mental - as fotografias tiradas pela retina, reveladas na memória.

mais do mesmo - tudo que se passa cá dentro.

pequenez - frase miúdas.

plural - textos feitos por mais de duas mãos.

poetiza - a fraca tentativa de escrever poemas.

postagem coletiva - os desafios da semana

saudade em preto e branco - porque quando há amor, não se morre.


Palavras e Silêncio

"A chuva é uma resposta a toda a minha melancolia, minha falta de senso, minha confusão minhas indecisões, minhas falsas alegrias."

quarta-feira, 2 de março de 2011


Já quis ser vento para brincar com seus cabelos,
sol para te aquecer no inverno,
lua cheia para iluminar todas as suas noites e estrelas,
para brincar com o brilho do seu olhar.

Quis ser beija-flor para provar do teu mel,
rosa para enfeitar teu jardim,
chuva, para lavar a tua alma,
ondas, para você poder surfar...

quis ser o mundo inteiro,
só pra te agradar.

Hoje, eu queria ser teu travesseiro.
Apenas pra sentir o seu cheiro, o toque do seu cabelo.
E poder ouvir as coisas mais bizarras que passam na sua cabeça
quando você está a sonhar...

terça-feira, 1 de março de 2011


De vez em quando sinto uma irresistível vontade de transitar pelas ruas, vielas, alamedas e ladeiras de minha memória para, num golpe de sorte talvez, encontrar em que rua errada entrei pra estar hoje tão longe do endereço procurado e almejado.

Nessas ocasiões em que pareço estar de férias do presente, com o corpo relaxada e a mente sentada na poltrona das reminiscências, é comum percorrer as alamedas arborizadas da infância, as vielas floridas da pré-adolescência, as vias rápidas da adolescência propriamente dita e até mesmo os engarrafamentos da idade adulta. Talvez por não saber direito o endereço que procuro, não enxergo que o percurso trata-se, na verdade, de uma ladeira que pode ser mais ou menos íngreme de acordo com as forças das minhas pernas.

Palavras e Silêncio