terça-feira, 25 de janeiro de 2011

O cheiro de brigadeiro inundava o corredor estreito. Eu caminhe lentamente, carregando uma felicidade diminuta, dessa que sempre me invadia quando pegava a porta lá em baixo aberta, recém cumprimentando algum morador. Gostava desse chegar sem prévio aviso, sem identificação. Apenas um bater na porta, ignorando por completo a campainha que berrava histérica. Três toques – toc, toc, toc - e a porta aberta por um sorriso de sol, daquele que esquentam por dentro. Ora vindo de uma moça de franjas curtas e jeito moleque, ora vindo de uma moça de rosto de porcelana e ora vindo embrulhado num abraço de barba por fazer e olhos de chocolate ao leite. Esse dia o riso veio abraçado. Voz e violão, pendurado feito chaveiro nos dedos da mão. Sorri de volta, entrando sem pedir licença e reclamando do brigadeiro já feito. “Quem fez?”, perguntei, um bico já se formando. “Eu mesmo”, respondesse. “Achei que você não vinha ou demoraria a vir”. E soltasse aquele riso despreocupado de desculpas, desnecessário. Dei de ombros, emburrei por charme e revirei os olhos, teatralmente. Ouvi tua gargalhada e um “você não existe”, enquanto você fechava novamente a porta e eu entrava em seu apartamento tão familiar e beijava com as bochechas outros rostos felizes. Sentei numa almofada fofa, pernas cruzadas e desejo de chocolate, logo saciado, pois você volto carregando o violão numa das mãos e a travessa de brigadeiro e morango noutra. Largou-a entre mim e as duas meninas tão irmãs e começou a cantar. John Mayer, Jack Johnson, Bem Harper. A sala se encheu da tua voz rouca e melodia suave, enquanto a tarde se vestia de pôr-do-sol, despedindo-se com classe e dando vez pra uma noite sem lua, fresca como as noites de novembro tendiam a ser. E íamos desse jeito despreocupado, o relógio pulsando sem pressa, a tigela vazia e as conversas infinitas. Quando cansamos de tanto nada-para-fazer, você se levantou, carregando um sorriso maroto e se escondeu no breu do teu quarto por míseros segundos, logo voltando e carregando entre os dedos três pequenos pacotes prateados... Um abraço triplo. Um “feliz natal” super antecipado e três anéis de borboleta, um para casa uma. Lembro que te beijei a testa e sussurrei um “vou sentir tua falta! E pedi para que você não demorasse a participar dos brigadeiros semanais. “Precisamos de trilha sonora”, argumentamos. Você nos abraçou brincalhão, feito irmão mais velho e, bagunçando meu cabelo, disse para que deixasse de ser boba: “Logo eu volto, bonita”...

“Logo eu volto, bonita... A promessa mais improvável daquele fim de ano.

E a tua ausência fazendo silêncio em todo lugar

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